31.3.07

Passeio Socrático

Meus compadres e minhas comadres: publico abaixo um ótimo texto de Frei Beto. Bom fim de semana à todos e boas reflexões.

Ao visitar em agosto a admirável obra social de Carlinhos Brown, no Candeal, em Salvador, ouvi-o contar que na infância, vivida ali na pobreza, ele não conheceu a fome. Havia sempre um pouco de farinha, feijão, frutas e hortaliças. "Quem trouxe a fome foi a geladeira", disse.

O eletrodoméstico impôs à família a necessidade do supérfluo: refrigerantes, sorvetes etc. A economia de mercado, centrada no lucro e não nos direitos da população, nos submete ao consumo de símbolos. O valor simbólico da mercadoria figura acima de sua utilidade. Assim, a fome a que se refere Carlinhos Brown é inelutavelmente insaciável.

É próprio do humano - e nisso também nos diferenciamos dos animais - manipular o alimento que ingere. A refeição exige preparo, criatividade, e a cozinha é laboratório culinário, como a mesa é missa, no sentido litúrgico.

A ingestão de alimentos por um gato ou cachorro é um atavismo desprovido de arte. Entre humanos, comer exige um mínimo de cerimônia: sentar à mesa coberta pela toalha, usar talheres, apresentar os pratos com esmero e, sobretudo, desfrutar da companhia de outros comensais.
Trata-se de um ritual que possui rubricas indeléveis. Parece-me desumano comer de pé ou sozinho, retirando o alimento diretamente da panela.

Marx já havia se dado conta do peso da geladeira. Nos "Manuscritos econômicos e filosóficos" (1844), ele constata que "o valor que cada um possui aos olhos do outro é o valor de seus respectivos bens. Portanto, em si o homem não tem valor para nós." O capitalismo de tal modo desumaniza que já não somos apenas consumidores, somos também consumidos. As mercadorias que me revestem e os bens simbólicos que me cercam é que determinam meu valor social. Desprovido ou despojado deles, perco o valor, condenado ao mundo ignaro da pobreza e à cultura da exclusão.

Para o povo maori da Nova Zelândia cada coisa, e não apenas as pessoas, tem alma. Em comunidades tradicionais de África também se encontra essa interação matéria-espírito. Ora, se dizem a nós que um aborígene cultua uma árvore ou pedra, um totem ou ave, com certeza faremos um olhar de desdém. Mas quantos de nós não cultuam o próprio carro, um determinado vinho guardado na adega, uma jóia?

Assim como um objeto se associa a seu dono nas comunidades tribais, na sociedade de consumo o mesmo ocorre sob a sofisticada égide da grife.
Não se compra um vestido, compra-se um Gaultier; não se adquire um carro, e sim uma Ferrari; não se bebe um vinho, mas um Château Margaux. A roupa pode ser a mais horrorosa possível, porém se traz a assinatura de um famoso estilista a gata borralheira transforma-se em cinderela...

Somos consumidos pelas mercadorias na medida em que essa cultura neoliberal nos faz acreditar que delas emana uma energia que nos cobre como uma bendita unção, a de que pertencemos ao mundo dos eleitos, dos ricos, do poder. Pois a avassaladora indústria do consumismo imprime aos objetos uma aura, um espírito, que nos transfigura quando neles tocamos. E se somos privados desse privilégio, o sentimento de exclusão causa frustração, depressão, infelicidade.

Não importa que a pessoa seja imbecil. Revestida de objetos cobiçados, é alçada ao altar dos incensados pela inveja alheia. Ela se torna também objeto, confundida com seus apetrechos e tudo mais que carrega nela mas não é ela: bens, cifrões, cargos etc.

Comércio deriva de "com mercê", com troca. Hoje as relações de consumo são desprovidas de troca, impessoais, não mais mediatizadas pelas pessoas. Outrora, a quitanda, o boteco, a mercearia, criavam vínculos entre o vendedor e o comprador, e também constituíam o espaço das relações de vizinhança, como ainda ocorre na feira.

Agora o supermercado suprime a presença humana. Lá está a gôndola abarrotada de produtos sedutoramente embalados. Ali, a frustração da falta de convívio é compensada pelo consumo supérfluo. "Nada poderia ser maior que a sedução" - diz Jean Baudrillard - "nem mesmo a ordem que a destrói." E a sedução ganha seu supremo canal na compra pela internet. Sem sair da cadeira o consumidor faz chegar à sua casa todos os produtos que deseja.

Vou com freqüência a livrarias de shoppings. Ao passar diante das lojas e contemplar os veneráveis objetos de consumo, vendedores se acercam indagando se necessito algo. "Não, obrigado. Estou apenas fazendo um passeio socrático", respondo. Olham-me intrigados. Então explico: Sócrates era um filósofo grego que viveu séculos antes de Cristo. Também gostava de passear pelas ruas comerciais de Atenas. E, assediado por vendedores como vocês, respondia: "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz".

Frei Beto

30.3.07

Resposta à John Neschling

Meus compadres e minhas comadres:
Vejam só o preconceito do maestro John Neschling dizendo que o “Governo Federal não tem berço cultural”. Talvez animado, como diz Glauber Piva em um texto que publico abaixo, por “uma susposta falta de apoio do Governo Federal às orquestras brasileiras”.
Glauber Piva responde Neschling à altura e da minha parte gostaria de acrescentar que essa súbita preocupação do maestro com a falta de apoio às orquestras me parece um tanto falsa.
É notória a falta de apoio do Governo do Estado de São Paulo às orquestras do interior paulista, somente existindo recursos para a OSESP, regida pelo maestro e nunca, nesses 14 anos que moro em Ribeirão Preto, tomei conhecimento de alguma atitude de John Neschiling em defesa de uma orquestra que não fosse a “dele”.
O nobre maestro perdeu a oportunidade de levantar uma discussão sadia sobre o tema que poderia se tornar benéfica às orquestras que lutam com dificuldades de sobrevivência e também às que lutam para serem implantadas, não fosse seu preconceito em relação ao Governo Federal e seu “esquecimento” em questionar as “políticas culturais de berço” dos governos do Estado de São Paulo que, em relação a apoio às orquestras, só tiveram, até agora, olhos para a OSESP.
Mas vamos à resposta de Glauber Piva ao nobre maestro.

COM BERÇO E CALDEIRÃO
artigo de Glauber Piva
26/03/2007

Em matéria publicada pelo jornal O Estado de São Paulo em 22/03/2007, o maestro John Neschling afirma que o "Governo [federal] não tem berço cultural". A justificativa para essa conclusão seria uma suposta falta de apoio do governo federal às orquestras brasileiras.
“O governo não tem berço!” Como bom caipira, fui remetido imediatamente a um sem número de vezes em que ouvi essa expressão: “o sujeito não tem berço!”. Todos sabem o que a frase quer dizer, indicando a falta de uma origem nobre que se expressa através de um comportamento vulgar ou na aparente “pouca” cultura.
O maestro poderia perfeitamente exercer seu sagrado direito à crítica de outras formas, poderia reclamar o que considera justo como apoio às orquestras ou propor uma necessária reflexão sobre o papel formador que as orquestras podem exercer, alicerçando aí sua reivindicação. Ele poderia ter politizado o debate, mas preferiu trilhar outro caminho.
Neschling, de certa maneira, dá eco aos que não concordam com a política do governo Lula para as artes. Alguns dizem que o governo pratica uma “política cultural do Bumba meu Boi”, que editais públicos seriam injustos por submeter os grandes nomes da cultura nacional a uma desnecessária concorrência, que os pontos de cultura seriam uma política assistencialista, ou que a primeira conferência nacional de cultura só atraiu os “despossuídos” e, por isso, não seria legítima.
Não me detenho muito em reafirmar a minha discordância em relação a essas críticas, já que entendo que o Ministério da Cultura soube diversificar e ampliar o espectro das políticas públicas de cultura, dando a elas escala e as inserindo na estratégia de desenvolvimento do país. A cultura se tornou paradigma de uma política ampla e democrática, respeitando e fomentando a diversidade.
Nessa perspectiva, este governo tem permitido e estimulado a explicitação de conflitos e evidenciado as diferenças na sociedade. Sendo assim, torna-se óbvio e até necessário que críticas ao governo e suas políticas apareçam. A suposta falta de apoio às orquestras, por exemplo, deve ser tema de debates e de críticas, se for o caso, mas alegar “falta de berço” não é fazer crítica, é exibir preconceito.
Essa afirmação tenta desqualificar o governo e os governantes de maneira irreversível, em virtude da inescapável falta de uma “origem nobre”. Essa suposta origem nobre, esse berço cultural, talvez fosse capaz de conferir ao digno maestro, bem como a seus pares, a competência necessária para elaborar as políticas culturais no país. O problema é que tal competência não tem sido vista onde os “de berço” governam. O melhor (ou pior?) exemplo é o que (não) acontece no Estado de São Paulo há doze anos.
Em São Paulo, o pouco de política pública de cultura que existe é resultado da luta dos movimentos culturais e dos gestores municipais do interior do Estado. Mais nada. O resto é da política cultural é marketing institucional do governo e ausência. Apenas isso.
Não adianta, porém, comparar gestões, o que seria fácil de fazer e atestaria a enorme diferença entre elas, demonstrando o caráter inclusivo da política federal e os efeitos do trabalho daqueles que governam o Estado. Com preconceito não se dialoga. Preconceito se combate. Por isso, gostaria de dizer ao maestro qual é o “berço” do operário-presidente e de seu governo.
O governo Lula nasceu em berço construído por milhares de mãos na luta contra o preconceito de classe, contra o preconceito racial e contra esse típico preconceito cultural que parece ainda animar parte das nossas elites.
O berço onde se embala a política cultural do governo Lula é aquele onde um dia foram embalados homens e mulheres de cultura que, a exemplo do que fez o músico Gilberto Gil, resistiram bravamente à ditadura militar, enquanto outros se acostumavam ao embalo não de seu berço e dos balcões de favores instalados em outras gestões do Ministério da Cultura – MinC - e que, ainda hoje, insistem em manterem-se vivos na Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo.
A gestão atual do MinC retomou o Projeto Orquestras, o Projeto Bandas, paralisado há anos, e o Projeto Circulação de Música de Concerto, com circulação por todo o país, ajudando a formar milhares de músicos e também público para a música de concerto, impulsionando esse mercado. Em estreita colaboração com o MinC e seguindo uma orientação específica do governo federal, estatais como a Petrobrás têm investido mais recursos na cultura, inclusive financiando a manutenção de uma de nossas melhores orquestras, a Petrobrás Sinfônica.
Existem vários outros exemplos, mas essa política ainda é passível de crítica e pode até ser considerada insuficiente e equivocada. Mas é importante que o maestro saiba que se há insuficiência ou equívoco não é por falta de “berço”, porque não é ele que garante competência e compromisso público. Numa análise rasa, até podemos dizer que o tal o “berço cultural” dos gestores tucanos tem mostrado seus resultados, e não tem oferecido relevante desenvolvimento cultural para o Estado de São Paulo, ao menos não do ponto de vista do grande público e da democracia. São Paulo, infelizmente, se recusou a participar do processo da conferência nacional de cultura, não assinou o protocolo de criação do Sistema Nacional, mantém um Conselho Estadual de Cultura restrito aos indicados pelo governador e relegou seus equipamentos à gestão de terceiros. Não há participação. A política parece ser executada para o próprio berço.
Caro maestro, nós temos orgulho do nosso “berço” que, julgamos, também é esplendido. Temos orgulho da nossa origem e, ao que parece, ela nos credencia para governar o Brasil justamente por nos autorizar a combater o preconceito que desagrega e desfigura a democracia que tentamos construir. Essa democracia custou a vida de milhares de mulheres e homens sem “berço” e tem sido construída com a inscrição da cultura no rol dos direitos sociais básicos, negando os privilégios dos bem-nascidos e tratando o Brasil como um caldeirão de diversidade.

Glauber Piva é Secretário Nacional de Cultura do PT

26.3.07

Livro de Oswald de Andrade revê o mundo sob ''viés comunista''

A editora Globo está lançando Dicionário de Bolso, do escritor modernista - e ''antropofágico'' - Oswald de Andrade. O livro traz verbetes que não seguem uma seqüência cronológica certa nem rígida, mas definem nomes importantes e figuras históricas partindo de um viés comunista. Leia crítica de Noemi Jaffe ( professora de Língua Portuguesa e doutora em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo) para a Folha de S.Paulo e trechos da obra.

Oswald de Andrade reinventa a história em seu dicionário
Estamos em tempo de muros. Atrás deles, blindados em insulfilmes, cercas, grades, condomínios fechados, protegidos por uma segurança que só faz aumentar o abismo entre nós e a causa do nosso medo, assim ampliando cada vez mais essas mesmas causas.

Ou então, em cima dos muros, calados, prudentes, ''moitas''. Nosso silêncio não é sábio, é medroso. Lavamos as mãos e sonhamos com punições terríveis a quem chamamos de culpados.

Oswald de Andrade não ficava atrás nem em cima dos muros. Colocava-se à frente deles, dava a cara à tapa, o nome aos bois. Seu Dicionário de Bolso, lançado recentemente, é uma lembrança feliz de como são possíveis outras maneiras de pensar e criar a história. Inventar uma história por rasgos, por saltos, subjetiva e bem humorada, como uma colagem.

Em seu pequeno Dicionário, Oswald remonta o passado e agora, para nós, ele próprio faz parte do passado. É preciso lê-lo da mesma maneira como ele lia e construía a sua história.

Seu dicionário não é neutro e nisso ele acaba contradizendo a própria idéia de dicionário. São verbetes que definem alguns nomes importantes da história ocidental e brasileira, a partir de um viés escancaradamente comunista.

''Forder-se''
Dessa forma, lemos que Caim é ''o primeiro burguês'', que ''demarcou a terra e fez a primeira cerca da história''; Isaías é autor de uma ''imprecação bolchevista''; Judas é ''um intelectual pequeno-burguês''; Giordano Bruno é ''o anarquista do humanismo'', José do Patrocínio é um ''negro vendido'' e Ford é ''o criador do neologismo ''forder-se'''.

A ordem dos verbetes parece seguir uma seqüência cronológica, mas não há nada de rigoroso nela. Por que Balzac e não Flaubert, por que Léger e não Picasso? Não se sabe.

A aleatoriedade faz parte da idéia do total arbítrio do autor; as coisas são assim porque Oswald constrói seu mundo dessa maneira: explícita e arbitrariamente, incluindo as bobagens que possam escapar no meio.

É importante, também, levar a sério o humor de Oswald de Andrade. Não são somente tiradas bem sacadas que compõem folcloricamente a lenda do modernista inconseqüente.

Ao contrário, seu humor tem a responsabilidade de se expor, rir de si mesmo e de dissolver os nexos rígidos entre as coisas, como deve fazer todo humor de qualidade.

Necessidades de ação
Deve-se sempre desconfiar de elos muito inflexíveis e, seguindo as palavras do próprio Oswald de Andrade, tão bem comentado pela organizadora Maria Eugênia Boaventura, ''atacar com saúde os crepúsculos de uma classe dominante não é de modo algum ser pouco sério''.

''O sarcasmo, a cólera e até o distúrbio são necessidades de ação, principalmente nas eras do caos, quando a vasa sobe, a subliteratura trona e os poderes infernais se apossam do mundo em clamor.'' Mal sabia ele que o ''mundo em clamor'' se calaria e subiria para cima a para trás dos muros.

Confira alguns trechos do Dicionário de Bolso

SANSÃO
Pau de cabeleira.

PROFETA ISAÍAS
Grande voz que do fundo da História proclama, como Jeremias, Oséias e Ezequiel, a Justiça Social. Autor desta pequena imprecação bolchevista: Anátema sobre os que decretam leis iníquas e escrevem ordens injustas para oprimir os pobres perante a justiça, violar o direito dos deserdados e fazer das viúvas e dos órfãos uma presa dos ricos! Anátema para os que acumulam casa sobre casa e juntam terras a terras até não ficar mais um lugar livre e possuírem eles só o país todo!

HOLOFERNE
A maior cabeça da História.

JOB
Judeu sem dinheiro.

SALOMÃO
Autor da proclamação final do Manifesto Comunista: ''Proletários de todo o mundo, uni-vos!''.

ARISTÓFANES
Comediógrafo aristocrata, do apogeu grego que deixou, há 25 séculos, na boca de uma de suas personagens -Proxágoras-- o seguinte trecho de codificação soviética: Quero aplicar o princípio de que todos devam ser iguais e desfrutar por igual os bens da terra. Basta dessa injustiça de ser um rico e outro pobre, possuir um vastas terras e outro não ter sequer o terreno necessário para cavar a sua sepultura. O dinheiro, a terra e toda a riqueza em geral passarão para as mãos da sociedade inteira e constituirão um fundo público. As empresas privadas se concentrarão numa única empresa coletiva. Todas as mulheres e todos os homens serão de todos e terão a liberdade de fazer o que quiserem. Não haverá casamento nem restrição de nenhuma espécie. A prostituição será suprimida. E não haverá necessidade de reconhecer os filhos, pois pertencerão todos à coletividade.

ANÍBAL
Espada imperialista de Cartago quebrada contra a porta de Roma.

TIBÉRIO GRACO
Tribuno romano, naturalmente pago pelo ouro de Moscou. Assassinado no ano 133 a.C. Gritava publicamente isto: Mentem os nossos generais quando incitam seus soldados para que só batam bem, dizendo-lhes que defendem contra o inimigo seus lares e os túmulos de seus antepassados, pois nenhum deles possui casa nem poderá mostrar a ninguém o túmulo sequer de seus pais. Na realidade, é para defender as riquezas alheias que se lhes pede que vertam seu sangue e morram! Chamam-nos de senhores do mundo, mas eles não têm sequer
um pedaço de terra onde reclinar a cabeça!

ESPÁRTACO
Escravo que organizou a revolta dos oprimidos em Roma e pôs em perigo o prestígio patricial durante anos. O seu exército, depois de esplêndidas vitórias, fundou e regeu um pequeno Estado comunista.

CÍCERO
Bacharel de Cananéia no Fórum Romano.

CATILINA
Catilinária bolchevista que apavorou Roma.

HORÁCIO
Poeta oficial que, num acesso de neurastenia feliz, convidou os ricos de Roma a atirar ao mar pérolas, jóias e o ouro inútil --''princípio de todas as desgraças''. Exclamava: ''Mais feliz do que vós é no seu deserto o cita que arrasta consigo a sua morada errante''.

VIRGÍLIO
Clássico muito lido nas classes. Saudosista do comunismo primitivo quando ''nenhum lavrador ainda havia dominado os campos, não era permitido marcar os seus limites nem regulamentar a sua distribuição e tudo era comum''.

SÊNECA JÚNIOR
Velho filósofo que afirmava que a humanidade desviara-se ''no dia em que quis alugar um objeto como propriedade privada''.

CÉSAR
Greta Garbo.

EUTRÓPIO
Deixou uma estatística das guerras sociais em Roma, estatística essa tachada de otimista, mas pela qual se verifica que morreram nelas 150 000 pessoas do povo e soldados, 7 pretores, 24 cônsules e 300 senadores. Sem se contar a perda de Catilina e dos tribunos Tibério e Caio Graco, todos três nobres, mas partidários do comunismo.

PLÍNIO, O VELHO
Autor do epitáfio econômico do Império Romano: ''Latifundia perdidere Italiam''.

JOÃO BATISTA
Máscara sangrenta pendurada na porta do cristianismo.

25.3.07

Hoje é aniversário do Galo. 99 anos de paixão e raça

O "Ser Atleticano"
(Roberto Drumond)

O atleticano é diferente de qualquer outro torcedor
É diferente, pois não se restringe a ser
Somente torcedor
Ser atleticano é como casamento
Na saúde e na doença
Nas alegrias e nas tristezas
Mesmo quando a doença parece não ir
E as tristezas teimam em permanecer
O atleticano é capaz de
Após uma derrota humilhante
Pegar a camisa no armário
E sair às ruas
Mesmo sendo alvo de piadas
Isso por que o atleticano não torce por um time
Torce por uma nação
E tal qual em uma guerra
Um cidadão não renega um país
Mesmo que a derrota seja grande
O atleticano apóia seu time na derrota
Pois os obstáculos engrandecem
Seu sentimento de nacionalismo
E que me perdoem os que têm apenas títulos
Claro que são importantes
Mas o atleticano tem algo que os outros nunca terão
Tem paixão!

Começa a contagem regressiva para o centenário do Clube Atlético Mineiro. Neste domingo (25), o Galo completa 99 anos, marcados por grandes conquistas, orgulho e fanatismo. Uma das histórias mais ricas do esporte brasileiro começou em 25 de março de 1908, quando um grupo de estudantes trocou as aulas daquela quarta-feira por uma reunião no coreto do Parque Municipal, em Belo Horizonte. O acontecimento mudaria para sempre o curso da História. Nascia ali o Athlético Mineiro Football Club, que em 1912 sofreria uma mudança de grafia e passaria a se chamar Clube Atlético Mineiro, romperia fronteiras e gravaria seu nome no desporto mundial. Para comemorar o aniversário do Clube, será celebrada uma Missa em Ação de Graças neste domingo (25), às 21h, na Igreja da Boa Viagem.

Atualmente, o Atlético é um dos clubes sul-americanos com melhor estrutura para futebol profissional e de base. A Cidade do Galo é considerada um dos mais modernos e completos centros de treinamento e concentração do continente.

A trajetória vitoriosa já seria desenhada no primeiro jogo. Em 21 de março de 1909, o Atlético venceu o Sport Club Futebol por 3 a 0, na casa do adversário. O primeiro gol foi marcado por Aníbal Machado, que se tornaria um grande escritor brasileiro. O rival não se conformou com a derrota, pediu revanche e foi novamente superado, desta vez pelo placar de 2 a 0. Na terceira partida, o time alvinegro aplicou uma goleada por 4 a 0, resultado que causou a extinção do Sport.

Além das glórias que marcam os seus 99 anos de existência, o Galo também pode se orgulhar de ser considerado o clube que possui a torcida mais fanática do Brasil. Ao longo dos tempos, a Massa Atleticana vem demonstrando sua força e estabelecendo recordes. O exemplo mais recente foi visto na conquista do Campeonato Brasileiro da Série B de 2006, quando o País inteiro acompanhou a torcida alvinegra embalar a equipe rumo ao título. Em reconhecimento, o Clube imortalizou a camisa 12, que representa o torcedor atleticano e não será mais utilizada por nenhum atleta.

Pioneirismo - A história atleticana é marcada pelo pioneirismo dentro e fora de campo. Em 1908, foi o primeiro time mineiro a trocar as antigas bolas de meia pelas de couro. Seis anos mais tarde, conquistou o primeiro torneio de futebol realizado em Minas Gerais, a Taça Bueno Brandão. Em 1915, venceu o primeiro campeonato oficial de futebol do Estado, organizado pela Liga Mineira de Esportes Terrestres, atual Federação Mineira de Futebol (FMF).

Ao contrário de outras equipes, que não permitiam o ingresso de quem não fosse rico ou estudante, o Atlético se firmava a cada dia como time do povo. O caráter popular rompeu as barreiras para o crescimento do Clube. Em 1929, o Atlético teve o primeiro jogador de fora do eixo Rio-São Paulo convocado para a Seleção Brasileira: o atacante Mário de Castro. O convite, no entanto, foi recusado pelo atleta sob a alegação de que não vestiria nenhuma camisa que não a alvinegra, com a qual marcou 195 gols em apenas 100 jogos, provavelmente a maior média do futebol mundial.

Ainda em 1929, em novo ato vanguardista, o Galo disputou o primeiro jogo internacional de um time mineiro, vencendo o então Campeão Português Victória de Setúbal por 3 a 1. Os gols foram marcados por Mário de Castro (2) e Said. A partida foi disputada no Estádio Antônio Carlos, que havia sido inaugurado em 30 de maio daquele ano e foi um dos primeiros do País a instalar refletores. O jogo de inauguração do também conhecido como Estádio de Lourdes foi contra o favorito Corinthians e o Galo venceu por 4 a 2, gols de Mário de Castro (3) e Said. Em 17 de agosto do ano seguinte, o estádio recebeu a visita do então presidente da FIFA, Jules Rimet, que acompanhou pela primeira vez um jogo noturno.

Ultrapassando as montanhas mineiras, em 1937, o Atlético se sagrou Campeão dos Campeões do Brasil, na primeira competição interestadual profissional realizada no País. O torneio foi organizado pela Federação Brasileira de Futebol (FBF) e reuniu as equipes vencedoras dos estaduais de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo. Ainda naquele ano, a FBF se fundiu à Confederação Brasileira de Desportos (CBD), atual Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

Em 1950, o Galo realizou inédita excursão pela Europa. Entre 2 de novembro e 7 de dezembro daquele ano, o time disputou dez partidas contra equipes da Alemanha, Áustria, Bélgica, Luxemburgo e França. Foram seis vitórias, dois empates e apenas duas derrotas. A notável campanha nos frios gramados do velho continente, alguns cobertos de neve, rendeu ao Clube o título simbólico de ‘Campeão do Gelo’ e abriu as portas da Europa para o futebol brasileiro.

Mais um feito inédito seria alcançado em 1969, quando o Atlético se tornou a única equipe do mundo a derrotar a Seleção Brasileira que conquistaria o tricampeonato mundial um ano depois, no México. Atuando no Mineirão, o Galo venceu por 2 a 1, gols de Amaury e Dadá Maravilha, com o Rei Pelé descontando para o Brasil. Desde então, a Seleção passou a evitar jogos contra times brasileiros.

Em 1971, o Galo se sagrou novamente Campeão Nacional ao vencer a primeira edição do atual Campeonato Brasileiro. A escrita continuou em 1992, com a conquista continental da primeira Copa Conmebol, competição equivalente à Copa da UEFA.

Símbolos Em meados da década de 1940, o cartunista Fernando Pierucetti, mais conhecido como Mangabeira, foi incumbido de batizar cada equipe mineira com um animal. Representando a raça e a bravura com que o time jogava, coube ao Atlético o galo carijó, preto e branco, um galo de briga que nunca se entregava antes do final das batalhas. O mascote alvinergo foi o bicho de maior sucesso entre todos e logo passou a simbolizar a paixão atleticana.

Idolatrado pela torcida, o Hino ao Clube Atlético Mineiro é o mais cantado em estádios no Brasil. Ele foi escrito e comporto por Vicente Motta, em 1969. Já o primeiro hino oficial do Clube foi composto em 1928 por Augusto César Moreira (música) e Djalma Andrade (letra).

Conquistas - O Atlético tem sua história marcada por grandes títulos. Em nível internacional, destacam-se o bicampeonato da Copa Conmebol (1992/97), o Torneio de Paris (1982) (França), Torneio de Leon (1972) (México), Torneio Conde de Fenosa (1976) (Espanha), Torneio de Vigo (1977) (Espanha), Torneio Costa do Sol (1980) (Espanha), Torneio de Bilbao (1982) (Espanha), Torneio de Berna (1983) (Suíça), Torneio de Amsterdã (1984) (Holanda), Troféu Ramon de Carranza (1990) (Espanha), Torneio de Cádiz (1990) (Espanha), Copa Centenário de Belo Horizonte (1997), Taça Millenium (1999) (EUA) e Three Continent`s Cup (Copa dos Três Continentes) (1999) (EUA).

No cenário nacional, o Galo tem conquistas como o Torneio Campeão dos Campeões (FBF) (1937), Campeonato Brasileiro (1971), Torneio Campeão dos Campeões do Brasil (1978), Campeonato Brasileiro da Série B (2006) e três vice-campeonatos brasileiros (1977, 1980 e 1999). Em território mineiro, é o clube mais vencedor, com 38 títulos estaduais.

A galeria de troféus do Clube ainda é enriquecida por grandes conquistas em outros esportes, especialmente no futsal, onde o Atlético é Campeão Mundial de Clubes (1998) e tricampeão nacional profissional (1985/97/99). No atletismo, destaca-se o título da Corrida de São Silvestre, vencida pelo atleta João da Mata em 1983. Importantes vitórias no basquete e no vôlei também fazem parte da vida atleticana.

Seleção - Inúmeros craques que passaram pelo Atlético já vestiram a camisa da Seleção Brasileira, como Reinaldo, Dario, Toninho Cerezo, Luizinho, Éder Aleixo, Ronaldo, Lola, Getúlio, Renaldo, Doriva, Paulo Isidoro, Vantuir, Marcelo, João Leite, Orlando, Elzo, Edivaldo, Batista, Sérgio Araújo, Moacir, Cléber, Mancine, Djalma Dias, Marcos Vinícius, Marinho, Ronaldo Guiaro, João Alfredo, Vaguinho, Vanderlei Paiva, Taffarel, Caçapa, Marques, Guilherme, Marcial, Valdo, Romeu, William, Adílson, Ângelo, Campos, Gérson, Danival, Cairo, Emerson, Lincoln, Márcio Santos, Renato Morungava, Amauri Horta, Caldeira, Carlos Augusto, Carlyle, Décio Teixeira, Grapete, Marquinhos, Mussula, Normandes, Oldair, Palhinha, Beletti, Reinaldo Rosa, Ronaldo Drumond, Tião, Wander e Felipe, entre outros. Em 2002, o volante Gilberto Silva foi pentacampeão mundial pelo Brasil como jogador do Atlético.

Em 19 de dezembro de 1968, representando a Seleção Brasileira, o Galo venceu amistoso contra a Iugoslávia por 3 a 2, de virada, gols de Vaguinho, Amauri e Ronaldo. A história atleticana ainda relata duelos contra seleções da França, Uruguai, Hungria, União Soviética, Romênia, México, Luxemburgo, Kwait, Bulgária, Colômbia, Jamaica, Indonésia, Argélia, Camarões, Catar, Ilhas Faroe e Vietnã.

A tradição do Clube também pode ser ilustrada pelos grandes adversários internacionais que já enfrentou como Borússia Dortmund, Schalque 04, Werder Bremen, Hamburgo, Munich 1860 (Alemanha), Barcelona, Atlético de Madri, La Coruña (Espanha), Milan, Roma, Lazio, Torino (Itália), Manchester United (Inglaterra), Benfica, Porto, Victória de Setúbal, Sporting (Portugal), Ajax, PSV Eindhoven (Holanda), Paris Saint Germain (França), Anderlecht (Bélgica), Rapid Viena (Áustria), Sparta de Praga (República Tcheca), Dínamo Zagreb (Iugoslávia), Boca Juniors, Independiente, River Plate, Racing, Vélez Sarsfield (Argentina), Peñarol, Nacional (Uruguai), Olímpia (Paraguai) e Kashima Antlers (Japão).

Fundadores - Aleixanor Alves Pereira, Antônio Antunes Filho, Augusto Soares, Benjamim Moss Filho, Carlos Maciel, Eurico Catão, Francisco Monteiro, Hugo Fracarolli, Humberto Moreira, Horácio Machado, João Barbosa Sobrinho, Jorge Dias Pena, José Soares Alves, Júlio Menezes Mello, Leônidas Fulgêncio, Margival Mendes Leal, Mário Neves, Mário Lott, Mário Toledo, Mauro Brochado, Raul Fracarolli e Sinval Moreira.

24.3.07

Há 175 anos morria Goethe, o poeta que previu a globalização

Goethe: "profeta"?
Em 22 de março de 1832, falecia Johann Wolfgang von Goethe, com a famosa frase nos lábios: "Mais luz!". Mesmo os seus críticos tinham de reconhecer: com o multitalento de Weimar desaparecia o mais importante poeta alemão. "Os peritos em arte eram unânimes: desde 1800 Goethe era o indiscutível número um da cultura alemã", comenta Jochen Golz, presidente da Sociedade Goethe, de Weimar.
Nascido de família abastada em 22 de agosto de 1749, em Frankfurt do Meno, o jurista formado - porém pouco aplicado à matéria - deu sua grande arrancada na carreira literária em 1774, com o romance Os Sofrimentos do Jovem Werther. O sucesso deste ícone do movimento Sturm und Drang (tempestade e ìmpeto) em breve atravessava as fronteiras alemãs.
A infeliz história de amor é baseada nas experiências de um amigo do escritor. Seu efeito é tão profundo na época, que os jovens imitam o protagonista, desde a indumentária - fraque azul e colete amarelo - até à opção pelo suicídio.
O poeta de 25 anos se assusta com o efeito do best-seller: "Ele se sentiu profundamente incompreendido", explica Golz. Entretanto, para os literatos, Werther continua sendo a via de acesso mais imediata à obra goethiana, após mais de 250 anos.

Alto funcionário e cientista
Em 1775, o poeta se muda de Frankfurt para a corte do jovem príncipe Carlos Augusto. Este é o soberano do grão-ducado de Saxe-Weimar-Eisenach, um mísero Estado-anão, com menos de 100 mil habitantes.
A ascensão de Weimar, no decorrer dos séculos seguintes, à categoria de cintilante metrópole cultural foi, sobretudo, mérito de Goethe, que a partir de então passa a praticar a poesia como segunda profissão.
Johann Wolfgang leva extremamente a sério suas numerosas funções, entre as quais a de secretário de Finanças. Além disso, dedica-se às ciências naturais. Suas pesquisas de anatomia comparada lhe permitem identificar a existência do osso intermaxilar em seres humanos.
Até então esse osso, onde estão incrustados os dentes incisivos superiores, só fora observado em esqueletos de animais. A descoberta representa para Goethe uma prova do parentesco entre o ser humano e outras espécies animais. Na física, ele se ocupa com experimentos com luz e cores.

Para cada época, o seu Goethe
Somente o encontro com Friedrich Schiller - que a partir de 1794 se transformará em amizade - traz de volta o entusiasmo pela atividade literária. É atendendo ao apelo do colega que Goethe retoma o trabalho na peça teatral Fausto, a qual, contudo, ele só concluirá em 1831, 60 anos após os primeiros esboços.
Segundo o estudioso Jochen Golz, é desnecessário se indagar sobre a atualidade desse drama, possivelmente o maior da língua alemã. "Do ponto de vista teatral, Fausto é simplesmente insuperável. Quanto ao conteúdo, uma peça para o aqui e agora." Goethe toca todos os conflitos básicos do ser humano, "e além disso traz o assunto para o palco numa linguagem grandiosa".
Hoje em dia, 175 anos após a morte do criador, muitos diretores têm dificuldades com a obra. "É claro que o teatro é sempre para o presente, e é claro que as peças de Goethe podem ser encurtadas", admite Golz. Mas é desnecessário transferi-lo à força para o presente - faz muito mais sentido contemplar os clássicos sob novas perspectivas. "E isso vale a pena. O passado demonstrou que cada época cria sua própria imagem de Goethe."

Profeta da globalização?
Certos cientistas até vêem em Goethe o descobridor da globalização, pois previu diversos desdobramentos futuros. "Goethe identificou a impaciência humana como a grande força impulsionadora da modernidade", esclarece Golz. "Por exemplo, ele descreveu o desejo de querer tudo imediatamente, sem refletir sobre as conseqüências."
Embora haja falecido antes da industrialização, Goethe já advertia para a destruição do meio ambiente. Golz ressalva ser errado querer ver, no poeta, um profeta. "No entanto, acredito que ainda se pode aprender muito com ele. Sobretudo, que homem e natureza formam uma unidade."
O especialista goethiano não vê uma desvantagem no fato de ser praticamente impossível abarcar o volume da literatura sobre o poeta, aos 175 anos de sua morte. "O mercado livreiro possibilita hoje em dia o acesso ideal a Goethe. Na verdade, existe a abordagem adequada para cada um."

Deutsch Welle.

20.3.07

Quem é normal?

As pessoas tomam remédios para agüentar o rojão da vida e se acreditarem normais.

De repente, surge uma fissura grave na couraça dos psicólogos, psiquiatras e psicanalistas. As sessões com os pacientes não chegariam a lugar nenhum, dizem alguns. Os problemas e distúrbios de comportamentos hoje são resolvidos com drogas, afirmam outros. Entretanto, na edição de Veja, de 14 de março, o psiquiatra americano Peter Kramer, diz que: “todos os remédios da classe dos inibidores de recaptação de serotonina, da qual o Prozac faz parte, são, em minha opinião, antidepressivos medíocres.” Daí, por exemplo, tanta controvérsia sobre o Prozac e seus sucessores que deixaram milhares de divãs sem pacientes. Agora, os tricíclicos voltam para valer. Com quem a verdade ou a certeza?

Será por tal fato que na classe médica há gracejo antigo? Ele diz, mais ou menos, o seguinte: O clínico geral sabe tudo e não faz nada, o cirurgião não sabe nada e faz tudo e o psiquiatra nem sabe nada e nem faz nada. Mera piada, é claro.

Talvez por não terem obtido sucesso em suas visitas a psiquiatras, psicanalistas e psicólogos é que tantas pessoas apelam para o consumo continuado de calmantes, antidepressivos e estimulantes de todas as naturezas, dosagens e composições químicas. Todas têm um médico amigo que as prescreve. As pessoas tomam remédios para agüentar o rojão da vida e se acreditarem normais. Mas o que é ser normal? Quais os referenciais que demonstram o desvio entre o certo e o errado? Será anormal quem não dorme bem, dorme pouco ou demasiado? Ou a anormalidade parte de quem observa? Será normal a pessoa comum, cotidiana que se compraz para acabar com o mofo de sua vida, em fazer cartas anônimas ou espalhar boatos falsos?

A propósito, nos Estados Unidos, o país onde mais se consome remédios para depressão, insônia, neurose etc. foi editado - pela St. Martin Press - o livro Você é normal? (Are you normal?), escrito por Bernice Kanner. Por apenas US$ 6,99, o preço de uma refeição ligeira, você saberá que existe muito mais gente “anormal” do que imagina. As pessoas entrevistadas, segundo Bernice Kanner, tinham o compromisso de não mentir e revelar, sob a segurança do anonimato, coisas que não diriam nem para o pai, a mãe, o marido ou a mulher.

As preciosidades colhidas por Bernice nos Estados Unidos mostram a vulnerabilidade, a ausência de altruísmo e outras falhas do caráter dos comuns mortais. Vamos lá: uma em cada quatro pessoas faria qualquer coisa por US$ 10 milhões; uma em cada dez pessoas compra um artigo, usa uma vez e o devolve; 3,9% das mulheres não usam calcinhas; 7,0% das pessoas utilizam o próprio cabelo como fio dental; 10% trocam etiquetas de preços de lojas para pagar menos; 10% admitem já ter visto fantasma; 23,5% não dão descarga quando vão ao banheiro; 25,0% furam filas; 28% admitem fazer xixi na piscina; 28% deixaram de declarar imposto de renda alguma vez; 29% já furtaram em lojas; 39% fofocam em salas de espera;54% reembrulham presentes recebidos e dão para outras pessoas; 58% já inventaram doença para não ir trabalhar; 60% dos homens cospem em público.

Isto tudo nos faz lembrar uma frase de Millôr Fernandes: “Como são maravilhosas as pessoas que não conhecemos bem” ou aquela outra de Bertold Brecht: “Um bom país para viver é aquele em que as virtudes não são necessárias e no qual todos podem ser pessoas comuns, medianas e até mesmo um pouco covardes.”

João Soares Neto

19.3.07

Memória caipira

Único registro de som e imagem da dupla Pena Branca e Xavantinho é lançado em DVD no pacote do programa Ensaio, da TV Cultura.

Não há título dispensável na coletânea do programa televisivo Ensaio, do diretor Fernando Faro para a TV Cultura. Vários programas vêm sendo reeditados em DVD pela gravadora Trama, mas alguns desses ultrapassam o mero interesse musical e podem ser considerados verdadeiros documentos da música popular brasileira. É o caso deste Pena Branca & Xavantinho, programa gravado em 1991. A memória dos cantadores e violeiros vai desfiando um cancioneiro caipira de tempos imemoriais entrelaçadas com o que se convencionou chamar de MPB.

É o primeiro e único registro em som e imagem de uma das grandes duplas caipiras brasileiras, terminada em 1999 com a morte de Xavantinho (Ranulfo Ramiro da Silva). Sobre as questões levantadas em off pelo diretor, Pena Branca e Xavantinho vão desvelando histórias de vida, da carreira e rememorando grandes canções em closes quase impressionistas. Doze músicas são relembradas por completo, de clássicas como Casinha de Aço (Teddy Vieira) e Amo-te Muito (João Chaves) a outras mais modernas tornadas clássicas por eles, casos de Calix Bento (Tavinho Moura) e O Cio da Terra (Milton Nascimento e Chico Buarque). Os irmãos mineiros (de Uberlândia) são acompanhados da dupla Kapenga (viola) e Betto Sodré (percussão).

Na conversa dos cantores e compositores, vão sendo resgatados não só um rosário de canções memoráveis, mas a história de um país já esquecido por personagens inesquecíveis, apesar de ambientados num tempo nem tão distante assim. Os irmãos lembram das cantorias em família, entre os anos 60 e 70 no Triângulo Mineiro, e de figuras extra-musicais que acabaram importantes na formação deles (como de resto na de um Brasil ingênuo). Aparecem nessa lista o ator, produtor e diretor Mazzaropi (Amácio Mazzaropi, 1912-1981). Relembram o pioneiro cineasta com uma toada homônima de Jean e Paulo Garfunkel. Em meio ao depoimento de Xavantinho, o diretor Fernando Faro incluiu um trecho do filme Sai da Frente, de Mazzaropi.

O Coronel Hipopota também é lembrado como personagem importante na carreira de Pena Branca e Xavantinho. Hipopota (Maximiliano Carneiro, 1916-1981, produtor cultural, homem de rádio e TV que atuou também na região Centro-Oeste com o programa República Livre do Cerradão) foi quem praticamente lançou os irmãos cantadores e violeiros no rádio, em Uberlândia, sugerindo-lhes o primeiro nome artístico: Peroba e Jatobá. Era 1962 e Pena Branca e Xavantinho se auto-intitulavam José e Ranulfo. Entre uma e outra lembrança, a cumplicidade musical estabelece-se na troca de olhares e de vozes (Pena Branca e Xavantinho trocavam com naturalidade quem fazia a primeira e a segunda voz - às vezes até durante a execução da música).

NA LIDA
Outras três músicas são lembradas, apenas em trechos, incluindo a primeira composição de Xavantinho (Carro de Boi) e compositores parceiros que integraram com eles as famosas caravanas de Rolando Boldrin, nos anos 80. Boldrin viajava o Brasil com o shows do programa Som Brasil e muitos artistas a bordo. Com a morte de Xavantinho, Pena Branca não desistiu da carreira nem se tornou um "cantor romântico". Manteve a linha de trabalho com o irmão e lançou outros dois discos-solos. Um deles, Semente Caipira (Kuarup), acabou premiado com o Grammy Latino de melhor álbum sertanejo, em 2001. "Tenho repertório pronto para um novo disco, que negocio com a Kuarup. Algumas músicas são coisas inéditas que guardo do mano", disse José Ramiro Sobrinho, o Pena Branca, referindo-se à obra do irmão Xavantinho.

Radicado em São Paulo, Pena Branca segue fazendo dois tipos de shows. Um em trio, acompanhado pelo baixista Ricardo Zoi e a percussionista Priscila Brigante, e outro com o grupo Viola de Nóis, de Uberlândia. O líder do grupo, Tarcisio Pinto, disse que segue fazendo shows do espetáculo A Viola no Picadeiro, que conta, além de Pena Branca, com a participação de Inezita Barroso. O show é montado com o grupo Pontapé de Teatro e resgata o ambiente de circo, outrora o primeiro palco dos grandes nomes da música caipira no Brasil.

Pena Branca & Xavantinho
Gravadora: Trama
Preço médio: R$ 25,00

17.3.07

O sonho da razão produz monstros

GOYA NO MASP

Pela primeira vez fora da Espanha, gravuras de Goya oferecem ao público paulistano um vertiginoso mergulho nas luzes e sombras da lucidez e da loucura que marcariam a arte moderna, de cuja gênese o realismo feroz do mestre espanhol foi determinante.

Desembarcam, neste domingo (18), no Masp, 218 gravuras de Francisco de Goya, pintor que retratou a alma da Espanha na virada do século 18 para o 19 e inaugurou o modernismo nas artes com feroz realismo. Ao longo de sua trajetória artística que, como também na biográfica, foi da lucidez à loucura, é possível observar o impacto de revoluções políticas e sociais que abalaram a Europa e mudaram para sempre a arte no mundo.

Trata-se de itinerância inédita, já que as séries Caprichos, Desastres da Guerra, Tauromaquia e Disparates ou Provérbios nunca foram expostas fora da Espanha. Esta oportunidade única para os brasileiros verem de perto as gravuras mais significativas de Goya faz parte das comemorações dos 60 anos do Masp que atravessa crise financeira estrutural há 12 anos e deposita nesta exposição a principal esperança de boa bilheteria em 2007.

Em sono profundo
Goya quis despertar a Espanha do sono da ignorância. É essa a crítica em sua gravura mais famosa, parte dos 80 trabalhos que compõem a série Caprichos: em El sueño de la razón produce monstruos, um homem aparece dormindo enquanto morcegos e corujas espreitam a seu redor. Mesmo sendo pintor da corte espanhola, ele mantinha os olhos mirados na França, de onde vinham as ondas da Grande Revolução que estremeceram a modorra dos velhos impérios adormecidos.

As gravuras dessa primeira série destilam o ódio de Goya pelo que ele mais detestava em seu país: a ignorância, a vulgaridade, a pobreza de espírito. A dor que sentia era a dor de um homem que amava sua terra, mas enxergava nela uma série de "hipocrisias consagradas pelo tempo". A crítica contundente aos costumes da época chamou a atenção da Inquisição, que mais tarde censuraria parte de seu trabalho.

Com o ideário da revolução já instalado, o cenário altera-se. Goya decepciona-se com a violência das tropas napoleônicas, que chegam à Espanha em 1808. Destina-se, então, à produção de uma série de trabalhos que denunciam os horrores da guerra. As 80 gravuras da série Desastres da Guerra não têm o mesmo impacto que a tela El Tres de Mayo, emblema de Goya afixado na parede do Museo del Prado em Madri, mas dão uma idéia da percepação acurada e sensível do artista que enlouquecia à medida que o sangue tingia o solo espanhol.

O período entre 1814 e 1816, marcado pela escalada das ameaças da Inquisição, força o refúgio de Goya a um tema menos controverso. A série Tauromaquia retrata, em 40 gravuras, as célebres touradas espanholas. Tema tradicional para outros artistas do país, na obra de Goya ganha fulgor pela riqueza de detalhes, pelos efeitos luminosos, e pela deflagração dos contrastes que reforçam a dramaticidade do embate entre homem e touro.

A série que fecha a exposição do Masp, Provérbios ou Disparates, traz 18 trabalhos já marcados pela loucura dos últimos anos de vida de Goya, que se exilou na França após um período de reclusão na Quinta del Sordo, casa cujas paredes cobriu com suas visões mais grotescas. Essa última série retrata monstros, espíritos e outras figuras sombrias que permeavam os sonhos do pintor.

As gravuras da Coleção Caixanova é a segunda exposição sob a curadoria de Teixeira Coelho, à frente do museu desde setembro do ano passado. As gravuras em cartaz no museu a partir de domingo pertencem à instituição financeira espanhola Caixanova e podem ser vistas até 20 de maio. São Paulo é a primeira cidade a receber a mostra, que depois viaja para Buenos Aires, Cidade do México, Miami e Nova York.

Serviço:
MASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateubriand
Av. Paulista, 1578 - Cerqueira César - São Paulo - SP
De 18 de março a 20 de maio - de terça a domingo, das 11h às 18h
R$ 15,00 (inteira) e R$ 7,00 (estudante), gratuito para menores de 10 anos e maiores de 60 anos
Informações: 11 3251 5644

16.3.07

160 anos do poeta Castro Alves (parte 2)

Só após a vinda da Família Real, em 1808, o Brasil pôde ter máquinas de imprensa legalizadas - antes qualquer impresso era perseguido, proibido, as máquinas quebradas, os jornalistas, gráficos e escritores presos. No tempo de Castro Alves ainda era recente a abertura ao impresso e a monarquia também tinha seus aparatos de censura, contra esta, o poeta escreveu O Livro e a América numa clara alusão à liberdade de imprensa - no sentido do periódico e do livro -, à educação popular e ainda fez uma homenagem ao inventor, do século 15, que construiu a primeira máquina de impressão, o genovês Guttemberg:

Filhos do séc'lo das luzes!
Filhos da Grande nação!
Quando ante Deus vós mostrardes,
Tereis um livro na mão:
O livro - esse audaz guerreiro
Que conquista o mundo inteiro

(...)

Por uma fatalidade
Dessas que descem do além,
O séc'lo que viu Colombo
Viu Guttemberg também.
Quando no tosco estaleiro
Da Alemanha o velho obreiro
A ave da imprensa gerou...
O Genovês salta os mares...
Busca um ninho entre os palmares
E a pátria da imprensa achou...

Por isso na impaciência
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto -
As almas buscam beber...
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe - que faz a palma,
É chuva - que faz o mar.

O poeta via na imprensa uma forma de falar para milhões e descrevia assim, em Deusa Incruenta, a sua grandeza ''divina'':

Tem hoje por tribuna imensa - a eternidade,
Por Fórum - o universo! e plebe - a humanidade!
A seus pés - as nações! os séculos - em redor!

Castro Alves também foi um dos primeiros a defender o voto feminino, que só foi conquistado na Constituição de 1934. Em Carta às Senhoras Baianas, publicada no periódico O Abolicionista em abril de 1871 e declamada na Sociedade Abolicionista que ajudou a constituir, por ocasião da campanha de arrecadação de dinheiro para a compra de alforrias, defende assim:

''A terra que realizou a emancipação do homem, há de realizar a emancipação da mulher. A terra que fez o sufrágio universal não tem o direito de recusar o voto de metade da América.
Este voto é o vosso.
É o voto dessas mães de família que aprenderam no amor de seus filhos a ternura pelas crianças.''

Lutou contra as guerras, para ele só o mundo em paz teria um ''iluminado porvir''. Durante a Guerra Franco-Prussiana (1870-71) a colônia francesa na Bahia organizou o Comité du Pain, onde Castro Alves recitou No Meting du Comitê du Pain para auxiliar na arrecadação de donativos aos mutilados, órfãos e viúvas da guerra:

Filhos do Novo Mundo! ergamos nós um grito
Que abale dos canhões o horrisono rugir,
Em frente do oceano! em frente do infinito
Em nome do progresso! em nome do porvir!

(...)

Não; clamemos bem alto à Europa, ao globo inteiro!
Gritemos liberdade em face da opressão!
Ao tirano dizei: Tu és um carniceiro!
És o crime de bronze! - escreva-se ao canhão!

Em sua estadia no Rio de Janeiro em 1868, leu para o escritor José de Alencar o drama Gonzaga e algumas poesias. O escritor logo indicou uma visita do poeta a Machado de Assis em carta que passa a seguinte impressão:

''Recebi ontem a visita de um poeta. O Rio de Janeiro não o conhece ainda; muito em breve o há de conhecer o Brasil (...) Palpita em sua obra o poderoso sentimento da nacionalidade, essa alma da pátria, que faz os grandes poetas, como os grandes cidadãos. Não se admire de assimilar eu o cidadão e o poeta, duas entidades que no espírito de muitos andam inteiramente desencontradas''

Machado de Assis não demorou a responder a carta de José de Alencar após a visita de Castro Alves:

''Ouvi Gonzaga e algumas poesias (...) Não podiam ser melhores as impressões. Achei uma vocação literária, cheia de vida e robustez, deixando antever nas magnificências do presente as promessas do futuro. Achei um poeta original. O mal da nossa poesia contemporânea é ser copista.''

Sua obra é mais conhecida pelas poesias que mostravam a situação do negro escravo e se manifestava contra esse tipo de trabalho forçado. Assim temos a radical Bandido Negro:

Somos nós meu senhor, mas não tremas,
Nós quebramos as nossas algemas
Para pedir-te as esposas ou mães.
Este é o filho do ancião que mataste.
Este é o irmão da mulher que manchaste...

Oh! Não tremas senhor, são teus cães.
Cai, orvalho de sangue do escravo,
Cai, orvalho na face do algoz.
Cresce, cresce, seara vermelha,
Cresce, cresce, vingança feroz.

Através dos versos Castro Alves mostrou o dia a dia do negro escravo, como em A Canção do Africano:

O escravo calou a fala,
Por que na úmida sala
O fogo estava a apagar;
E a escrava acabou seu canto,
Para não acordar com o pranto
O seu filhinho a sonhar!

Mostrou também como os negros chegavam ao Brasil de forma violenta, através de O Navio Negreiro, que tem como subtítulo Tragédia no Mar, o clima da vinda forçada de gerações:

Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...

Negras mulheres suspendendo as tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras, moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!

E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doidas espirais...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...

Foi um entusiasta dos quilombos e, para o de Palmares, fez Saudação a Palmares, mostrando a garra com que aqueles negros construíram a resistência à escravidão:

Palmares! a ti meu grito!
A ti, barca de granito,
Que no soçobro do infinito,
Abriste a vela ao trovão,
E provocaste a rajada,
Solta a flâmula agitada,
Aos urros da marujada,
Nas ondas da escravidão!

No final de 1868, em uma caçada, em São Paulo, Castro Alves sofreu um acidente com uma arma, que na sua cintura disparou no calcanhar esquerdo. O ferimento se complicou e foi preciso amputar o pé, mesmo sem anestesia, serrando-o - já que uma machadada estilhaçaria os ossos do restante da perna. Pouco apareceu em público nessa situação. Sua tuberculose se desenvolveu e foi seu pesadelo até a morte. Seu último pedido foi ver o sol que brilhava na janela perto de sua cama. Morreu em Salvador, em julho de 1871 aos 24 anos, sendo autor de imensa obra literária em defesa do Brasil e seu povo, contra a escravidão e pela República, pela paz e contra a guerra.

Ler Castro Alves é um caminho espinhoso. Analogias com a mitologia antiga, palavras que no século 21 não usamos mais, construção invertida das frases são características da poesia romântica daquela época. Mas vale a pena o esforço para sentir a contribuição de um jovem poeta às lutas do povo brasileiro.

Estes 160 anos do poeta Castro Alves não podem passar em branco. Elevar a figura do poeta hoje é uma resistência cultural nos tempos em que a cultura imperialista pasteuriza e descaracteriza a produção da cultura nacional e popular. Parabéns,Castro Alves, sua poesia ainda influencia o povo brasileiro e sua juventude.

* Fernando Garcia é historiador e membro do Centro de Estudos e Memória da Juventude (CEMJ)

15.3.07

160 anos do poeta Castro Alves (parte 1)

Castro Alves, o poeta abolicionista de O Navio Negreiro, autor de um único e célebre livro, viveu apenas 24 anos — o suficiente para se tornar um dos mais influentes escritores brasileiros. Para lembrar os 160 anos de seu nascimento, o Vermelho lança, nesta quarta-feira (14), uma série de três artigos sobre o poeta baiano.

Castro Alves (1847-1871) O primeiro texto é do historiador Fernando Garcia, do Centro de Estudos e Memória da Juventude (CEMJ). Relata influências e temas na obra de Castro Alves, contextualizando sua poesia. A segunda parte de seu ensaio será publicada na quinta-feira. A série se encerra na sexta, com o artigo “As múltiplas atualidades de Castro Alves”, do mestre em literatura Everaldo Augusto, vereador em Salvador (BA) pelo PCdoB. Boa leitura!

160 anos do poeta Castro Alves

Por Fernando Garcia *

Neste 14 de março comemoramos o aniversário de 160 anos do poeta Castro Alves (1847-71). Nascido na Fazenda Cabaceiras na então freguesia de Muritiba, perto de Curralinho (BA), filho do Dr. Antonio José Alves e Clélia Brasília da Silva Castro (o sobrenome Brasília foi uma homenagem à pátria recém-libertada).

Antonio Francisco de Castro Alves chamado na sua infância por Cecéu, se tornou um dos maiores poetas brasileiros; Poeta da Abolição, Poeta dos Escravos são seus codinomes merecidos por vasta obra em defesa da abolição da escravatura no Brasil.

A história de Castro Alves começa antes mesmo de seu nascimento. Sua família influenciou de forma determinante nas suas poesias e no seu pensamento revolucionário dentro das marcas da nascente burguesia nacionalista ascendente naquele período do Império. Seu avô materno, José Antonio da Silva Castro, foi major nas lutas de independência na Bahia subordinado ao general Pedro Labatut – reconhecidamente um dos responsáveis pela expulsão dos últimos portugueses resistentes no ano de 1823.

O major Silva Castro comandou o batalhão dos “Periquitos” (seus uniformes eram verde) que incluía sertanejos e a valente Maria Quitéria. Na obra de Castro Alves o “2 de julho”, data marco daquela expulsão, esteve presente em poesias e homenagens, como nesta Ao Dois de Julho recitada no teatro São João, na Bahia, em 1867, em que lembra das batalhas e de seu avô, o major Silva Castro:

Vós sois os cedros da História,
A cuja sombra de glória
Vai-se o Brasil abrigar.

E nós que somos faíscas
Da luz desses arrebóis,
Nós que somos borboletas
- Das crisálidas de avós

Mas antes ainda, aos 17 anos, em outro Ao Dois de Julho, já proclamava:

E hoje o dedo de Deus escreve ufano:
Tremei, tiranos desta triste lenda;
Livres, erguei o colo soberano!

Quando estava em São Paulo, em 1868, Castro Alves recitou no Teatro São Paulo outra poesia em homenagem a esta data, Ode ao Dois de Julho, mas antes de começar disse algumas palavras como gostava de fazer e neste caso agradou ao público paulista quando traçou uma ponte entre Salvador e São Paulo e mostrou como entendia a unidade nacional no episódio da independência da seguinte forma:

“O Ipiranga é irmão do Paraguaçu. O 7 de setembro é irmão do 2 de julho. Não há glória de uma província, há glória de um povo. É sempre o Brasil herdeiro augusto dos heróis, esses pródigos sublimes.”

E iniciou a sua declamação onde sugere uma marca de contrários:

Não! Não eram dois povos que abalavam
Naquele instante o solo ensangüentado...
Era o porvir – em frente ao passado,
A Liberdade – em frente à Escravidão,
Era a luta das águias – e do abutre,
A revolta do pulso – contra os ferros,
O pugilato da razão – com os erros,
O duelo da treva – e do clarão!...

Outro elemento familiar do poeta que muito o influenciou foi seu tio paterno João José Alves. Aventureiro, comandante de milícias populares, nacionalista ferrenho, João José, sempre que se metia em confusões na rua, corria à casa do irmão, para a alegria de Cecéu, que gostava de ouvir as histórias do tio lutando capoeiras, discutindo com conservadores, falando sobre a independência do Brasil.

Um dia foi a família, mais João José, assistir a uma peça no Teatro São João. A platéia aristocrática exibia jóias e roupas caras, no pano de fundo do palco uma pintura que exibia Tomé de Sousa chegando ao Brasil e índios com cara de subservientes. João José pulou ao palco, tirou uma faca da cintura e rasgou toda pintura. Entre aplausos e vaias, a confusão tomou conta do teatro, sob o olhar atento de Cecéu. O forte antilusitanismo na Bahia daquela época não admitia que se colocasse os “brasileiros” subjugados perante os portugueses, João José foi uma influência nacionalista na vida militante e na obra de Castro Alves.

Aos 11 anos Castro Alves foi estudar no Ginásio Baiano, dirigido por Abílio César Borges, professor que aboliu em sua escola o uso da palmatória e de castigos, por outro lado fazia saraus para que os alunos exercitassem leituras num ambiente mais informal. Foi assim que o poeta declamou em público suas primeiras poesias – nesta época, ainda inocentes e infantis, mas com talento já reconhecido. Ali Castro Alves aprendeu francês e começou a ler e traduzir entre outros Victor Hugo, autor francês que tinha como protagonistas de suas obras miseráveis e trabalhadores.

À esta época Álvares de Azevedo era um dos poetas de maior destaque no país. Tinha um sentimento mórbido em sua poesia, desejava e falava da morte; descrevia situações extremas de festas e arruaças nos cemitérios. Castro Alves se contrapôs a essa visão cética do mundo, como em O Século, neste trecho:

E enquanto o ceticismo
Mergulha os olhos no abismo,
Que a seus pés raivando tem,
Rasga o moço os nevoeiros,
Pra dos morros altaneiros
Ver o sol que irrompe além.

Durante o Império (1822-89), o Brasil passou por imensas crises políticas e levantes populares. A monarquia massacrou passo a passo todas as manifestações de oposição e de cunho popular como a dos Cabanos nos Pará (1833), dos Farrapos no Rio Grande do Sul (1835-45), Sabinada na Bahia (1837), Balaiada no Maranhão (1839), a revolução liberal em Minas e em São Paulo (1842) e os Praieiros em Pernambuco (1848-49).

Da Revolução Praieira, Castro Alves admirava a luta pelo voto livre e universal, liberdade de pensamento e de imprensa, garantia de trabalho a todos, independência dos poderes constituídos com a exclusão do Poder Moderador, sistema federativo, reforma do poder Judiciário, garantia dos direitos individuais. Esse movimento foi declaradamente republicano e teve dois líderes que se destacaram na obra de Castro Alves, Pedro Ivo e Antonio Borges da Fonseca. O primeiro é título de um de seus poemas que propaga a idéia de república:

República!... Vôo ousado
Do homem feito condor!
Raio de aurora inda oculta

E chama o povo a lutar por ela:

Então repeti ao povo:
Desperta do sono teu!

(...)

Quando o povo acordado
Te erguer do tredo valado,
Virá livre, grande, ousado

E quando falou da Revolução Praieira, comparou-a a Revolução Francesa de 1789:

E eu disse: Silêncio, ventos!
Cala a boca, furacão!
No sonho daquele sono
Perpassa a Revolução!
Este olhar que não se move
Está fito em – Oitenta e Nove –

Borges da Fonseca, o outro revolucionário praieiro admirado pelo poeta, em 1864, em Recife, fez um comício republicano que foi dissolvido com muita violência à patas de cavalos – estava presente o estudante Castro Alves. Com a arma que o poeta tem, em meio à confusão, Castro Alves de improviso declamou o que conhecemos por O Povo ao Poder, um manifesto que unifica o continente americano como povos “irmãos” e representa a defesa do direito à reunião, à palavra, ao livre pensamento:

Quando nas praças se eleva
Do povo a sublime voz,
Um raio ilumina a treva,
O Cristo assombra o algoz

(...)

A praça, a praça é do povo!
Como o céu é do condor!
É antro onde a liberdade
Cria a águia ao seu calor!
Senhor, pois quereis a praça?
Desgraçada a populaça!...
Só tem a rua de seu
Ninguém vos rouba os castelos
Tendes palácios tão belos...

(...)

A palavra, vós roubai-la
Dos lábios da multidão.
Dizeis, senhores, à lava
Que não rompa do vulcão!

(Continua na quinta-feira, 15).

* Fernando Garcia é historiador e membro do Centro de Estudos e Memória da Juventude (CEMJ)

14.3.07

Festival de Inverno de Campos do Jordão abre inscrições para bolsistas

Estão abertas até 15 de abril as inscrições para bolsistas do 38º Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, o mais importante evento de música clássica da América Latina, que ocorrerá entre 7 e 29 de julho de 2007.

Ao todo, são oferecidas 148 bolsas de estudos para músicos, dos 12 aos 30 anos, nos cursos de instrumentos, prática de orquestra, música de câmara, regência e composição. Os cursos de canto lírico e técnica de gravação são para candidatos entre 20 e 35 anos.

Neste ano, assim como acontece desde 2004, os bolsistas formarão a Orquestra Acadêmica que tocará e gravará um CD sob a regência do Maestro Roberto Minczuk, diretor artístico do Festival.

Pela primeira vez, o Festival terá audições para jovens músicos nos Estados Unidos, em Caracas, na Venezuela, e em Brasília. As demais cidades serão São Paulo, Rio de Janeiro, Buenos Aires, Santiago do Chile e San José de Costa Rica. Também serão selecionados bolsistas por meio de gravações.

As inscrições podem ser feitas até 15 de abril no site www.festivalcamposdojor~dão.org.br, que também informa o local e as datas das audições.

Publicidade da Folha Online

8.3.07

Lênin no inferno

Depois de fazer a Revolução Russa, acabar com as diferenças de classes, varrer a burguesia e o Czar, e dedicar sua vida inteira ao comunismo, Lênin finalmente morre. Por ser ateu e ter perseguido os religiosos, termina sendo condenado ao inferno.

Ao chegar lá, descobre que a situação é pior que na terra: os condenados são submetidos a sofrimentos incríveis, não há alimento para todos, os demônios são desorganizados, Satanás comporta-se como um rei absoluto - sem qualquer respeito por seus empregados ou pelas almas penadas que agüentam o suplício eterno.

Lênin, indignado, rebela-se contra a situação: organiza passeatas, faz protestos, cria sindicatos com diabos descontentes, incentiva rebeliões. Em pouco tempo, o inferno está de cabeça pra baixo: ninguém respeita mais a autoridade de Satanás, os demônios pedem aumento de salário, as sessões de suplício ficam vazias, os encarregados de manter acesas as fornalhas fazem greve.

Satanás já não sabe o quer fazer: como seu reino pode continuar funcionando, se aquele rebelde está subvertendo todas as leis? Tenta um encontro com ele, mas Lênin, alegando não conversar com opressores, manda um recado através de um comitê popular, dizendo que não reconhece a autoridade do Chefe Supremo.

Desesperado, Satanás vai até o céu conversar com São Pedro.

- Vocês lembram aquele sujeito que fez a revolução russa? – diz Satanás.

- Lembramos muito bem – responde São Pedro. – Comunista. Odiava a religião.

- Ele é um bom homem – insiste Satanás. – Mesmo que tenha seus pecados, não merece o inferno; afinal, procurou lutar por um mundo mais justo! Na minha opinião, ele devia estar no céu.

São Pedro reflete algum tempo.

- Acho que você tem razão – diz finalmente. – Todos nós temos nossos pecados e eu mesmo cheguei a negar Cristo por três vezes. Mande ele para cá.

Louco de contentamento, Satanás volta para sua casa e envia Lênin direto para o céu. Em seguida, com mão de ferro e alguma violência, termina com os sindicatos de demônios, dissolve o comitê de almas descontentes, proíbe assembléias e manifestações de condenados.

O inferno volta a ser o famoso lugar dos tormentos que sempre assustou o homem. Louco de alegria, Satanás fica imaginando o que deve estar acontecendo no céu.

“Qualquer hora São Pedro vai estar batendo aqui, pedindo que Lênin retorne!“, ri consigo mesmo. “Aquele comunista deve ter transformado o paraíso em um lugar insuportável!”

O primeiro mês passa, um ano inteiro passa, e nenhuma notícia do céu. Morto de curiosidade, Satanás resolve ir até lá para ver o que está acontecendo.

Encontra São Pedro na porta do Paraíso.

- E aí, como vão as coisas? – pergunta.

- Muito bem – responde São Pedro.

- Mas... está tudo mesmo em ordem?

- Claro! Por que não haveria de estar?

“Este cara deve estar fingindo”, pensa Satanás. “Vai querer me empurrar Lênin de volta”

- Escuta, São Pedro, aquele comunista que eu mandei, tem se comportado bem?

- Muito bem!

- Nenhuma anarquia?

- Pelo contrário. Os anjos são mais livres que nunca, as almas fazem o que bem desejam, os santos podem entrar e sair sem hora marcada.

- E Deus, não reclama deste excesso de liberdade?

São Pedro olha, com uma certa piedade, o pobre diabo a sua frente.

- Deus, camarada? Deus não existe!

Extraído do site Diário Gauche

7.3.07

DRÁUZIO VARELA

"No mundo atual está se investindo cinco vezes mais em remédios para virilidade masculina e silicone para mulheres do que na cura do Mal de Alzheimer.
Daqui a alguns anos teremos velhas de seios grandes e velhos de pau duro, mas eles não se lembrarão para que servem."

Dráuzio Varella

4.3.07

Uberaba Cultural

Meus compadres e minhas comadres:

Essa matéria abaixo foi veiculada no Jornal de Uberaba do dia 02/03/2007 e a meu ver necessita uns adendos, pois, nossa cidade é uma verdadeira usina de arte, cultura e talentos. Vamos então à matéria do jornal e depois, ao final, a gente continua.

CULTURA E ARTE DESTACAM UBERABA
No Museu de História Natural "Wilson Estevanovic", o acervo é formado por rochas, minerais, pedras em geral, fósséis e réplicas. A sede está localizada na rua Uruguai, 557. No Museu de Arte Decorativa, conta com biblioteca, móveis e porcelana inglesa da década de 20, além de expor obras de Reis Júnior, pinturas em tela (retratos da família). O museu também promove exposições temporárias de arte e de música mostrando diversos aspectos da cultura brasileira.

O Museu do Zebu é o símbolo de sucesso de uma equação pioneira, formada por interesses comuns das Secretarias de Estado da Cultura e de Agricultura, da Associação Brasileira dos Criadores de Gado Zebu (ABCZ) e da Prefeitura da cidade. Localizado no Parque Fernando Costa, o acervo conta a saga do gado Zebu no Brasil e no mundo a partir do fim do século 19 e seus aspectos culturais. Única do gênero no mundo, seu acervo é constituído por peças, fotos, livros e documentos. Exposição permanente e mostras anuais temporárias.

O Mercado Municipal funciona em prédio erguido em 1922, na praça Manoel Terra. Sofreu reformas que modernizaram seu interior e todas as suas instalações, mas que conservaram seu estilo original. É uma excelente opção para compras de produtos típicos mineiros, frutas, verduras, laticínios, carnes e peixes, além de contar com outras lojas de produtos típicos. Nas manhãs de domingo a fundação cultural promove o Domingo Musical, com apresentações de diversificados artistas locais.

O Museu de Arte Sacra está instalado na Igreja Santa Rita, construída em 1854 e tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1939. O acervo é rico em peças barrocas dos dois últimos séculos e possui diversificado número de peças doadas pela Cúria Metropolitana, sobressaindo-se as seções de vestes sacras, estandartes de procissões, tais como paramentos, alfaias, imagens e mobiliário”.

A intenção do jornal, é claro, não foi fazer um balanço do que Uberaba comporta em se tratando de arte e cultura e nem tão pouco tenho conhecimento suficiente e pretensão em também fazê-lo. Mas gostaria de aproveitar a ocasião e informar, a quem interessar possa, que Uberaba está ganhando uma ong que tem entre seus objetivos a valorização da arte e da cultura locais e que leva em seu nome o do nosso imortal compositor Antenógenes Silva.

Gostaria ainda de destacar as verdadeiras obras arquitetônicas das igrejas de Uberaba e de alguns casarões que ainda desafiam o tempo e a pouca preocupação com a preservação do nosso patrimônio histórico, salvo algumas exceções.

É também necessário considerar a produção de nossos artistas nos mais variados segmentos, seja na literatura, na música, na dança, nas artes plásticas, no teatro, no artesanato, etc.

Quero lembrar também das manifestações culturais dos nossos irmãos afro-descendentes: as congadas, os moçambiques, etc, bem como nossas manifestações de cultura popular como as Folias de Reis e catiras.

A periferia também tem uma produção artística e cultural que destaca Uberaba na região, a exemplo do grupo de percussão “Os Tribais”, que nascido em projeto da Companhia Brasileira do Teatro de Percussão vem plantando suas sementes em vários municípios do Triângulo Mineiro.

Não posso esquecer de falar que temos dois teatros. Um que é municipal: o Teatro Vera Cruz, que foi adquirido pela Prefeitura em sua gestão atual e tem lugares para mais de mil pessoas. O outro, o nosso T.E.U., Teatro Experimental de Uberaba, um teatro aconchegante com quase duzentos lugares e que durante muito tempo foi o responsável por manter nossa produção teatral viva, em cartaz, inter-relacionando-se com a população e acolhendo as produções locais de forma democrática, o que aliás sempre foi seu perfil. Sempre esteve aberto e disponível ao público, aos artistas e às produções experimentais ou não. Não há como falar do T.E.U. sem desassociá-lo do nosso sempre lembrado e querido amigo Maurílio Cunha Campos de Moraes e Castro. Foi ele o responsável pelo único teatro de Uberaba durante décadas.

Mas ainda no assunto casa de espetáculos há que se destacar o teatro do SESI-MINAS,localizado na Praça Frei Eugênio, com sua programação cultural e artística de altíssimo nível, coordenada pelo Centro Cultural José Maria Barra.

Sem dúvida somando-se tudo, e ainda considerando o que não foi citado, o resultado dessa adição beneficia nossa cidade em vários aspéctos: o cultural, o social e o econômico.

As atividades artísticas e culturais em Uberaba têm provocado avanços e agora com a ACUAS – Associação Cultural Antenógenes Silva, certamente os avanços serão acentuados e provocarão uma inovação no meio cultural da cidade culminando em uma nova identidade para o movimento sócio/cultural e econômico de Uberaba por meio de uma atividade que buscará a inovação metodológica e artística bem como a excelência operacional.

Uberaba comporta alguns projetos mantidos pela Prefeitura Municipal de inclusão sócio/cultural através da arte e educação e a ACUAS tem grande interesse em fechar parcerias em projetos que visam a promoção da cidadania, da inclusão social e cultural uma vez que tem entre seus objetivos o de contribuir para o enriquecimento da cultura da cidade e região, por meio de um crescente interesse da comunidade por uma programação cuidadosamente oferecida que visa criar e conservar o contato entre a arte e a sociedade.

A ACUAS através de sua programação artística e cultural garantirá em Uberaba a presença de artistas, maestros, músicos de renome nacional e internacional, professores, críticos de arte, divulgação na mídia falada, escrita e televisiva, entre outros, e certamente muito contribuirá para o crescimento econômico da cidade e região. São atividades e programações que refletirão sua importância econômica sobretudo no turismo.

Então, meus compadres e comadres, vamos apostar nossas fichas em Uberaba pois certamente estamos assistindo neste momento os resultados das nossas reflexões e vivências, ou seja, a necessidade de profundas transformações na área cultural de nossa cidade e isso só será possível com parcerias entre todos os setores responsáveis pela cultura de Uberaba que incluem o poder público e privado, instituições, entidades e afins.