30.4.07

Galo goleia, inverte vantagem e põe mão na taça

O técnico Levir Culpi prometeu e o Galo fez chover. Neste domingo à tarde, no Mineirão, o Atlético praticamente garantiu o título mineiro de 2007 ao golear o Cruzeiro por 4 a 0 no primeiro duelo da decisão do Campeonato Mineiro. A vantagem, que era dos celestes, agora é dos alvinegros. No jogo de volta, no próximo domingo, o Galo poderá ser derrotado até por três gols de diferença que levanta a taça do Estadual após seis anos de jejum.

Todos os gols do baile atleticano foram marcados no segundo tempo. Éder Luís, Danilinho, Marcinho e Vanderlei balançaram as redes. O último gol, aos 47 minutos, foi convertido por Vanderlei quando o goleiro Fábio ainda estava de costas, lamentando o terceiro gol de Marcinho.

Pelo futebol apresentado pelo Atlético e pela fragilidade do Cruzeiro, a vitória poderia ter sido com placar bem mais dilatado.

Portal Uai

28.4.07

Encerramento da Semana do Choro em Uberaba

Meus compadres e comadres
Ontem em Uberaba assisti ao encerramento da Semana do Choro.
Voltei para casa de alma lavada e orgulhoso da minha gente.
Estava acompanhado do violonista Antônio De Vito e de seu filho Daniel, bacharelando em piano pela UnB.

A Semana do Choro é uma iniciativa dos chorões aqui da terra, liderados pelos grandes amigos Fausto Reis e Marvile Palis, que em parceria com a Fundação Cultural fizeram Uberaba ser, por uma semana, a capital nacional do choro.

Desde o dia 23 de abril a cidade se embalou aos sons dos mais variados instrumentos de cordas e sopros, executados com maestria pelos chorões mais experientes e com bastante talento por jovens em formação musical, mostrando que a safra a ser colhida garante um futuro farto para a música em Uberaba.

Além das já esperadas execuções musicais sempre irretocáveis de artistas consagrados do choro em Uberaba, como o cavaquinista Fauto Reis, o mestre do violão de 7 cordas Reinaldo De Vito e demais integrantes do Choro Cultura, o público pode conferir a belíssima interpretação da obra Naquele Tempo, de Pixinguinha, interpretada pela grande flautista Marvile Palis que apresentou-se também ao lado de seus talentosos alunos.

A apresentação de encerramento aconteceu no MADA, Museu de Arte Decorativa de Uberaba e foi comandada pelo grupo “Choro Cultura” que gentilmente acompanhou os grupos e solistas que se apresentaram.

Parabéns Faustinho, parabéns Marvile, parabéns aos demais participantes e parabéns ao nosso querido amigo Luiz Gonzaga de Oliveira, Presidente da Fundação Cultural de Uberaba.

Já disse uma vez aqui no blogue: “aposto minhas fichas em Uberaba”.

Morre o violoncelista e regente russo Mstislav Rostropovich

"É com grande tristeza que a Agência Federal de Cultura russa é obrigada a anunciar que hoje, 27 de abril, morreu o grande músico Mstislav Rostropovich", anunciou uma porta-voz da agência estatal de cultura da Rússia.

Citando uma fonte próxima ao músico, as agências de notícias russas disseram que Rostropovich morreu num hospital de Moscou depois de uma doença prolongada.

De acordo com um relato, ele será enterrado no cemitério de Novodevichye, em Moscou, onde na quarta-feira foi sepultado o ex-presidente Boris Yeltsin com honras de Estado.

No mês passado Rostropovich, já enfraquecido, compareceu à comemoração de seu 80o aniversário, no Kremlin, onde foi festejado pelo presidente Vladimir Putin.

Ele se levantou, trêmulo, e fez um breve discurso em voz fraca. "Sou o homem mais feliz", disse. "Minha família e meus colegas estão aqui comigo neste dia."

Foi a primeira vez que Rostropovich apareceu em público desde fevereiro, quando foi internado num hospital de Moscou. Na época, seu secretário disse que sua doença não era algo que pusesse sua vida em risco.

Mstislav Rostropovich foi uma das figuras culturais mais amadas da Rússia. Além disso, ganhou fama em todo o mundo como defensor dos direitos civis durante a era soviética.

Enquanto estava no exterior, em 1978, o Kremlin o destituiu de sua cidadania, devido a suas "atividades não patrióticas", segundo disseram os jornais oficiais.

O violoncelista tímido sofreu problemas por ter falado publicamente em defesa de seu amigo, o escritor Alexander Solzhenitsyn, e do dissidente Andrei Sakharov quando ambos foram atacados pelas autoridades soviéticas.

Em 1990, dentro do novo espírito de abertura inaugurado pelo líder soviético Mikhail Gorbachev, o Kremlin restaurou sua cidadania russa.

De volta a seu país, Rostropovich tornou-se um dos líderes do movimento democrático nascente no país, que acabou levando à queda da União Soviética. Ele esteve entre as multidões que desafiaram o golpe de Estado lançado pelos defensores da linha dura que tentavam reverter as reformas da perestroika de Mikhail Gorbachev.

Dias após a queda do Muro de Berlim, Rostropovich levou seu violoncello e embarcou a Berlim para fazer um concerto de improviso, não anunciado, ao lado dos escombros do muro.

"Foi o que meu coração ditou," ele disse mais tarde.

A empresária musical Lilian Hochhauser, que com seu marido Victor regularmente financia turnês britânicas de grandes companhias russas de ópera e balé, descreveu Rostropovich como "um gênio."

"Ele foi o número 1, de todas as maneiras. Ele é o último dos grandes titãs russos a nos deixar. Rostropovich não apenas foi um músico extraordinário, como também um grande humanitário e fonte de inspiração para inúmeros compositores que compuseram obras belíssimas especialmente para ele," disse ela à Reuters.

"Ele foi destemido em sua tentativa de proteger Solzhenitsyn e Sakharov. Era destemido e tinha um grande espírito. O homem foi nada mais, nada menos que um gênio."

Rostropovich dividiu seus últimos anos de vida entre a Rússia, os Estados Unidos e a França. Ele e sua mulher, a soprano Galina Vishnevskaya, dirigiam uma fundação humanitária.

Agência Reuters

26.4.07

Guernica faz setenta anos

Símbolo da bárbarie militar, a destruição, há 70 anos, do pequeno povoado basco de Guernica (Guernika, em euskera, dialeto basco) pela força aérea nazista continua gerando polêmica neste início de século 21. O acontecimento inspirou a obra-prima homônima do pintor Pablo Picasso.

No dia 26 de abril de 1937, o povoado de seis mil habitantes foi bombardeado pelos aviões da Legião Condor da aviação alemã, em apoio às forças nacionalistas do general Francisco Franco, meses após o início da Guerra Civil espanhola (1936-39).

O bombardeio às cegas, ao cair da tarde, provocou incêndios que destruíram três quartos da cidade e deixou centenas de mortos. Foi assim que Guernica, base histórica do nacionalismo basco que queria derrubar Franco, se converteu na primeira cidade da história destruída por um ataque aéreo direcionado contra alvos civis.

Os nacionalistas acusaram imediatamente as forças republicanas de ter incendiado a cidade, argumento de propaganda durante muito tempo repetido pelos meios de comunicação e círculos conservadores da Europa.

Posteriormente, quando se viram contra a parede, os franquistas atribuíram a responsabilidade pelo massacre aos alemães, que por sua vez afirmavam que só pretendiam bombardear uma ponte e uma fábrica de armas nos arredores de Guernica. Nem a ponte nem a fábrica foram alcançadas pelas bombas.

Pesquisas históricas, em particular uma extensa investigação feita nos anos 70 pelo jornalista inglês Gordon Thomas, permitiram confirmar que o bombardeio fazia parte de uma "estratégia de terror" idealizada pelos franquistas em parceria com seus aliados nazistas.

O general golpista Emilio Mola, que comandava a ofensiva contra os republicanos no norte da Espanha, havia explicado claramente que sua intenção era "arrasar Vizcaya" e terminar rapidamente com a guerra na região. As estimativas dos historiadores variam entre 300 e mil mortos.

"Não, foram vocês"
Pablo Picasso nunca duvidou da origem e magnitude dessa tragédia, que retratou em sua célebre tela de 1937, batizada com o nome do povoado bombardeado.

"Vocês fizeram isso?", perguntou algum tempo depois, em Paris, o embaixador alemão Otto Abetz ao autor da obra. "Não, foram vocês", respondeu Picasso, que destinou os lucros das exposições de "Guernica" à causa republicana.

Fonte: France Presse
Pescado do portal www.vermelho.org.br

24.4.07

A predominância afro-descendente na música brasileira

Após 16 anos de pesquisa sobre a predominância afro-descendente na música brasileira, o maestro Marcelo Antunes Martins criou o projeto Os Mestres Mulatos com o objetivo de difundir a obra dos compositores, de Luís Álvares Pinto (1719-1789) a Alfredo da Rocha Viana Junior — mais conhecido como Pixinguinha — (1898-1973). Desenvolvido em várias etapas; na primeira fase, será apresentada uma leitura instrumental, abrangendo todos os períodos históricos da música brasileira. Serão dez concertos gratuitos e consecutivos, até dezembro, sempre no último domingo de cada mês.

No segundo concerto do projeto Os Mestres Mulatos, no dia 29 de abril, o maestro Marcelo Antunes Martins apresenta ao público obras dos mestres de autorias conhecidas do período colonial. São partituras de grandes mestres que remetem às obras pertencentes aos estados de Pernambuco, Bahia e Minas Gerais, datadas do final do século XVIII e início do século XIX. Com patrocínio da Petrobrás, os brasileiros finalmente poderão conhecer as obras-primas desses gênios, todas conhecidas e autografadas, em formato instrumental. Os espetáculos serão realizados pela Sinfonieta dos Devotos de Nossa Senhora dos Prazeres e incluirão, ao longo da temporada, instrumentos típicos, como rabecas, trompas, percussão e clarinetes.

Na data será homenageado o maestro Júlio Medaglia, primeiro a reger um concerto com composições desses mestres. Teremos também a participação de Ademilson dos Santos, atual mestre capela da Irmandade, interpretando o Hino a São Benedito de sua autoria.

Além dos concertos, está previsto a gravação de CD para distribuição gratuita (10.000 cópias), com as principais obras do projeto. Para incentivar também a nova geração de músicos a preservarem a memória da música brasileira, serão disponibilizadas, pela internet, partituras adaptadas para orquestras modernas e grupos camerísticos.

A cada apresentação, o maestro Marcelo Antunes Martins dá uma rápida explicação sobre o que se trata a obra a ser orquestrada, proporcionando um clima bastante intimista e agradável de aproveitar o concerto. A escolha do repertório tem por critério dar luz à existência desses compositores, por isso foram selecionadas peças de curta duração, revelando algo predominante na genialidade desses mestres no decorrer da história: a alegria.

A IGREJA

A Igreja Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos está localizada no centro de São Paulo, Largo do Paissandu. A entidade foi criada para abrigar a religiosidade do povo negro, impedido de freqüentar as mesmas igrejas dos senhores, resiste à urbanização, mantendo em seu calendário uma devoção secular a Nossa Senhora. São realizadas procissões, novenas e rezas do terço, despertando o interesse dos que transitam pelas proximidades da avenida São João e da avenida Rio Branco.

Construída em 1725 com a arrecadação de doações e esforço dos malungos (irmãos), ser demolida para dar lugar a projetos de urbanização da Província. Os negros conseguiram manter relativo patrimônio ao redor dessa igreja, casas simples serviram para atividades religiosas, acolhimento dos alforriados e a administração da Irmandade, composta de diretoria e mesários.

Repertório – 29 de abril
Luís Álvares Pinto (1719-1789): Fragmentos de Te Deum Laudamos
Caetano de Mello Jesus (...1759...): Fragmentos de Recitativo e Ária
José Joaquim Emérico Lobo de Mesquita: (1746-1805) Diffusa Est Gratia e Laudade Pueri Dominum; Ave Regina Caelorum; Gradual (Para o Domingo da Ressurreição}
Manuel Dias de Oliveira (1745-1813): Angelus Domini (Fuga do Egito); Encomendação das Almas;
Joaquim de Paula Souza Bonsucesso (...1820): Antífona de São Joaquim (Laudemus virum)
João de Deus de Castro Lobo (1794-1832): Salve Sancte Pater

SERVIÇO:
“Os Mestres Mulatos”
29 de abril de 2007 - 12h
Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, Largo do Paissandu s/n; Informações: (0xx11) 3331.1983;
Apresentação Gratuita;
Duração: 75minutos;
Capacidade: 240 lugares;
Censura: livre;
Metrô mais próximo: República

Pescado no Portal Agência Carta Maior

23.4.07

Chico Buarque, o compositor do cotidiano brasileiro

A poética de Chico Buarque tem fortes bases no cotidiano brasileiro. Além de profundo lirismo, o lado mais sombrio do país vira matriz da sua criação musical. Veja artigo da socióloga Irlys Alencar Firmo Barreira para o Diário do Nordeste.

Cartazes espalhados em outdoors e chamadas jornalísticas, indicando a passagem de um dos maiores compositores da chamada MPB, são como lufadas de ar fresco no ambiente conturbado de nossa metrópole. Chico Buarque de Hollanda, trazendo na mala poesia e música, chega com sua banda, "cantando coisas do amor", sem nunca haver esquecido o lado mais sombrio de tudo o que cheira a humano e vira matriz da criação musical.

As canções de Chico Buarque rimam vários sentimentos, evocando desejos, perdas, sonhos, desigualdades sociais e perseguições políticas, com metáforas que saltam do erudito ao popular. Em uma das inúmeras entrevistas concedidas à imprensa, o compositor afirma ser "um cantor de cotidiano", expressão que caracteriza seu trabalho de criação musical: "Tem mais samba no chão do que na lua; tem mais samba no homem que trabalha; tem mais samba no som que vem da rua".

O samba urbano, cheirando a "chaminé e asfalto", diz bem das constantes referências do compositor às vicissitudes da cidade grande, incapaz de acolher, de forma igualitária e com dignidade, as diferentes categorias sociais. Pedro Pedreiro é o símbolo da espera intermitente, do "sem vintém" que espera a sorte, espera o filho e a morte personificando a esperança aflita dos moradores pobres do subúrbio.

SUSSUROS E VERSOS

A fuga ao mundo da ordem aparece inúmeras vezes através da personagem do malandro que faz da vida uma espécie de drible às convenções, unindo boemia e esperteza. Transmuta-se também no malandro de outra classe social com terno, gravata, coluna social e candidato a "malandro federal".

Além das músicas que constituem uma espécie de denúncia à situação de repressão (Apesar de você), observa-se já, em 1976, os sinais da anistia, momento em que a escuridão, para usar uma metáfora do compositor, vai sendo gradativamente substituída por "sussurros em versos e trovas que andam combinando no breu das tocas". É quando os prenúncios da abertura saúdam "O que todos os avisos não vão evitar". Nessa mesma direção, a música Vai Passar, de 1984, representa o símbolo da alegria, da cidade reconciliada com seu povo, convocado a ver "a evolução da liberdade, até o dia clarear".

O cotidiano é também enunciado pela presença de mulheres na criação artística do compositor. Elas são diversas e quase todas trazem a marca de comportamentos tradicionais ou irreverentes. A Carolina, que "nos seus olhos fundos guarda a dor de todo esse mundo"; a Januária, homenageada pela natureza, onde "até o mar faz maré cheia para chegar mais perto dela". A mulher do cotidiano, que "faz tudo sempre igual". Há também muitas mulheres que esperam. A Carolina, que deixou o tempo passar na janela, e as mulheres de Atenas que "tecem longos bordados e mil quarentenas".

OLHOS NOS OLHOS

Algumas letras revelam o surgimento da mulher liberada. Aquela que após viver a rejeição amorosa pode ver, "olhos nos olhos", já refeita pelo tempo e por novos amores.

O amor das canções é feito de muitas rimas e dores, a exemplo da forma simbiótica que não sobrevive à separação, pois "se confundimos tanto as nossas pernas, diz com que pernas eu devo seguir". Em Samba para um Grande Amor, a palavra mentira serve de estribilho e contraponto aos versos românticos que adquirem, assim, a ironia e irreverência.

Amores não convencionais também emergem na música Mar e Lua, que canta as duas mulheres que "amavam o amor serenado de noturnas praias, levantavam as saias e se enluaravam de felicidade...". Amores difíceis (Retrato em Branco e Preto), impossíveis, proibidos e não correspondidos refletem a diversidade das formas de amar - De Todas as Maneiras.

As músicas de Chico são também povoadas de outros personagens que encarnam um cotidiano carregado de reveses. São eles os loucos, a prostituta, os pivetes, os homossexuais e malandros. Uma memória subterrânea dos desvalidos, ou uma espécie de cotidiano de inversões de valores e instituições repõem os outros lados do estigma e da exclusão social. Na música Noite dos Mascarados, a desordem consentida no carnaval, já explorada pelo antropólogo Roberto da Matta, constitui uma espécie de hino desse ritual de transgressão.

RÍTMOS MÚLTIPLOS

A alusão transgressora do sentimento, absoluto em sua entrega, encontra-se também nas notas dissonantes do Choro Bandido, em parceria com Edu Lobo: "Mesmo que os romances sejam falsos como o nosso / são bonitas as canções / mesmo sendo errado os amantes seus amores serão bons".

O repertório musical de Chico Buarque apresenta um conjunto diversificado de ritmos que incluem valsa, samba, bolero, frevo, tango, etc. Entre eles, a presença forte de um samba que desceu o morro e adquiriu novos tons. Agora letra e música unem-se para completar acordes. Na música Beatriz, por exemplo, a palavra chão vem acompanhada da nota mais grave, enquanto a palavra céu traz a nota mais aguda.

Em algumas composições, letra e música funcionam como repetição onomatopaica de sons que vêm de objetos. A música Pedro Pedreiro torna o refrão, "que já vem", o barulho repetido do trem. A música Acorda, Amor traz em seu arranjo o som semelhante ao barulho da sirene. Também a composição Suburbano Coração, imita, em sua primeira estrofe, o som das badaladas do relógio. Trata-se de um recurso poético-musical já presente em Villa Lobos, na descrição de ruídos de máquinas do Trenzinho Caipira.

Soando como nostalgia, ou carregando elementos de novidade próprios da vida cotidiana, as canções de Chico Buarque trilham a singularidade de um país de múltiplas heranças, tal qual a vida do compositor cantada na música Para Todos: "O meu pai era paulista, meu avô pernambucano, o meu bisavô mineiro, meu tataravô, baiano, vou na estrada há muitos anos, sou um artista brasileiro".

Para além do prazer da escuta, a música pode ser uma das vias de interpretação sociológica que revelam aspectos culturais e linguagens de uma sociedade em determinado tempo histórico. A partir de metáforas originais, o compositor apresenta situações emblemáticas nas quais passeiam personagens, com os dilemas típicos de um mundo que sempre cresce feito "roda viva" e "carrega o destino prá lá".

PELA ÚLTIMA VEZ

A criatividade de Chico Buarque não cessa de fluir, acompanhando experiências e formas atuais de sociabilidade. Em uma de suas últimas composições, poesia e música emergem do encontro efêmero, líquido e fugaz do amor contemporâneo: "Diga que cheguei de leve, não me leve a mal, me leve à toa pela última vez" (Leve, em parceria com Carlinhos Vergueiro). Outra composição, que inicia o CD Carioca, canta o subúrbio das faltas, o lugar que não figura no mapa, onde "até Jesus está de costas" (Subúrbio).

Chico é assim, "um pote até aqui" de lirismo musical, ponto de fuga e encontro com o cotidiano.


Irlys Alencar Firmo Barreira é socióloga e professora titular do Departamento de Ciências Sociais da UFC

Hoje é o Dia Nacional do Choro e Pixinguinha faria 110 anos!

Músicos, musicólogos e amantes de nossa música podem discordar de uma coisa ou outra. Afinal, como diria a vizinha gorda e patusca de Nelson Rodrigues, gosto não se discute. Mas, se há um nome acima das preferências individuais, este é Pixinguinha.

O crítico e historiador Ari Vasconcelos sintetizou de forma admirável a importância desse fantástico instrumentista, compositor, orquestrador e maestro: “Se você tem 15 volumes para falar de toda a música popular brasileira, fique certo de que é pouco. Mas se dispõe apenas do espaço de uma palavra, nem tudo está perdido; escreva depressa: Pixinguinha.”

Uma rápida passagem pela sua vida e sua obra seria suficiente para verificar que ele é responsável por façanhas surpreendentes, como a de estrear no disco aos 13 anos de idade revolucionando a interpretação do choro. É que naquela época (1911) a gravação de disco ainda estava em sua primeira fase no Brasil e os instrumentistas, mesmo alguns ases do choro, pareciam intimidados com a novidade e tocavam como se tivessem pisando em ovos, com medo de errar. Pixinguinha começou com segurança total e improvisou na flauta com a mesma tranqüilidade com que tocava nas rodas de choro ao lado do pai e dos irmãos, também músicos, e dos muitos instrumentistas que formavam a elite musical do início do século XX.

Pixinguinha só não era eficiente em certos aspectos da vida prática. Em 1968, por exemplo, a música popular brasileira, os jornalistas, os amigos e o próprio governo do então estado da Guanabara mobilizaram-se para uma série de eventos comemorativos pela passagem dos seus 70 anos no dia 23 de abril. Sabendo que a certidão de nascimento mais utilizada em fins do século XIX era a certidão de batismo, o músico e pesquisador Jacob Bitencourt, o grande Jacob do Bandolim, compareceu à igreja de Santana, no Centro do Rio, para obter uma cópia da certidão de batismo de Pixinguinha, e descobriu que ele não fazia 70 anos, mas 71, pois não nascera em 1898 como sempre informou, mas em 1897.
O erro fora consagrado “oficialmente” em 1933, quando Pixinguinha procurou o cartório para fazer a sua primeira certidão de nascimento. Mas não se enganou apenas no ano. Registrou-se com o mesmo nome do seu pai, Alfredo da Rocha Viana, esquecendo-se do Filho, que era seu, e informou errado o nome completo da mãe: Raimunda Rocha Viana em vez de Raimunda Maria da Conceição.

O que é certo é que tinha muitos irmãos: Eugênio, Mário, Oldemar e Alice, do primeiro casamento de Raimunda, e Otávio, Henrique, Léo, Cristodolina, Hemengarda, Jandira, Hermínia e Edith, do casamento dela com Alfedo da Rocha Viana. Ele era o caçula. A flauta e as rodas de choros não impediram que tivesse uma infância como as outras crianças, pois jogava bola de gude e soltava pipa nos primeiros bairros em que morou, Piedade e Catumbi.

O pai, flautista, não só deu a ele a primeira flauta como o encaminhou para os primeiros professores de música, entre os quais o grande músico e compositor Irineu de Almeida, o Irineu Batina. Seu primeiro instrumento foi cavaquinho mas mudou logo
para a flauta. Sua primeira composição, ainda bem menino, foi Lata de Leite, um choro em três partes como era quase obrigatório na época. Também foi em 1911 que se incorporou à orquestra do rancho carnavalesco Filhas da Jardineira, onde conheceu os seus amigos de toda a vida, Donga e João da Baiana.

O pai preocupava-se também com os estudos curriculares do menino, que, antes de freqüentar os bancos escolares, teve professores particulares. Ele, porém, queria mesmo era a música. Tanto que, matriculado no Colégio São Bento, famoso pelo seu rigor, matava aula para tocar no que seria o seu primeiro emprego, na casa de chope A Concha, na Lapa Boêmia.
“Às vezes, ia lá com a farda do São Bento”, recordou Pixinguinha em seu depoimento ao Museu da Imagem e do Som. Tudo isso, antes de completar os 15 anos, quando inclusive trabalhou como músico na orquestra do Teatro Rio Branco.

Em 1914, com 17 anos, editou pela primeira vez uma composição de sua autoria, chamada Dominante.
Na edição da Casa Editora Carlos Wehrs, seu apelido foi registrado como Pinzindim. Na verdade, o apelido do músico ainda não contava com uma grafia definitiva, pois fora criado pela sua avó africana. O significado de Pinzindim teve várias versões. Para o radialista e pesquisador Almirante, significava “menino bom” num dialeto africano, mas a melhor interpretação, sem dúvida, é a do pesquisador de cultura negra e grande compositor Nei Lopes, que encontrou a palavra psi-di numa língua de Moçambique, que significa comilão ou glutão. Como Pixinguinha já carregava também o apelido caseiro de Carne Assada, por ter sido surpreendido apropriando-se indevidamente um pedaço de carne assada antes do almoço que seria oferecido pela família a vários convidados, é provável que a definição encontrada por Nei Lopes seja a mais correta.

Em 1917, gravou um disco do Grupo do Pechinguinha na Odeon com dois clássicos da sua obra de compositor, o choro Sofres Porque Queres e a valsa Rosa, sendo que esta última tornou-se mais conhecida em 1937, quando foi gravada por Orlando Silva.
Naquela altura, ele já era um personagem famoso não só pelo seu talento de compositor e de flautista como por outras iniciativas, entre as quais sua participação no Grupo do Caxangá, que saía no carnaval desde 1914 e era integrado por músicos importantes como João Pernambuco, Donga e Jaime Ovale. E era também uma das figuras principais das rodas de choro na famosa casa de Tia Ciata (Hilária Batista de Almeida), onde o choro ocorria na sala e o samba no quintal. Foi lá que nasceu o famoso Pelo Telefone, de Donga e Mauro de Almeida, considerado o primeiro samba gravado.

Em 1918, Pixinguinha e Donga foram convocados por Isaac Frankel, proprietário do elegante cinema Palais, na Avenida Rio Branco para formar uma pequena orquestra que tocaria na sala de espera. E nasceu o grupo Oito Batutas, integrado por Pixinguinha (flauta), Donga (violão), China, irmão de Pixinguinha (violão e canto), Nelson Alves (cavaquinho), Raul Palmieri (violão), Jacob Palmieri (bandola e reco-reco) e José Alves de Lima, Zezé (bandolim e ganzá). “A única orquestra que fala alto ao coração brasileiro”, dizia o letreiro colocado na porta do cinema.
Foi um sucesso, apesar de algumas restrições de caráter racista na imprensa.

Em 1919, Pixinguinha gravou Um a Zero, que compusera em homenagem à vitória da
seleção brasileira de futebol sobre a uruguaia, dando ao país seu primeiro título internacional, o de campeão sulamericano. É impressionante a modernidade desse choro,
mesmo quando comparado a tantas obras criadas mais de meio século depois.

Os Oito Batutas viajaram pelo Brasil e, em fins de 1921, receberam um convite irrecusável: uma temporada em Paris, financiada pelo milionário Arnaldo Guinle. E, no
dia 29 de janeiro de 1922, embarcaram para a França, onde permaneceram até agosto tocando em casas diferentes, sendo a maior parte do tempo no elegante cabaré Sheherazade.

Foi em Paris que Pixinguinha ganhou de Arnaldo Guinle o saxofone que iria substituir a flauta no início da década de 1940, e Donga recebeu o banjo, com o qual faria muitas gravações.

Na volta da França, o grupo fez várias apresentações no Rio de Janeiro (inclusive na exposição comemorativa do centenário da independência) e, em novembro de 1922, novamente os Oito Batutas viajaram, dessa vez para a Argentina, percorrendo o país durante cerca de cinco meses e gravando vários discos para a gravadora Victor.
Na volta ao Brasil, a palavra Pixinguinha já ganhara sua grafia definitiva nos discos e na imprensa.
Novas apresentações em teatros e em vários eventos e muitas gravações de disco, com seu grupo identificado com vários nomes: Pixinguinha e Conjunto, Orquestra Típica Pixinguinha, Orquestra Típica Pixinguinha-Donga e Orquestra Típica Oito Batutas.

Os arranjos escritos para seus conjuntos chamaram a atenção das gravadoras, que sofriam na época com a quadradice dos maestros da época, quase todos estrangeiros e incapazes de escrever arranjos com a bossa exigida pelo samba e pela música de carnaval.

Contratado pelo Victor, fez uma verdadeira revolução, vestindo a nossa música com a brasilidade que fazia tanta falta. São incontáveis os arranjos que escreveu durante os anos em que atuou como orquestrador das gravadoras brasileiras. Tudo isso nos leva a garantir que não estará cometendo qualquer exagero quem afirmar que Pixinguinha foi o grande criador do arranjo musical brasileiro.

Na década de 1930, gravou também muitos discos como instrumentista e várias músicas de sua autoria (entre as quais as fantásticas gravações de Orlando Silva de Rosa e Carinhoso), mas o mais expressivo daquela fase (incluindo mais da metade da década de 1940) foi a sua atuação como arranjador.

Em 1942, fez a última gravação como flautista num disco com dois choros de sua autoria: Chorei e Cinco Companheiros. Ele nunca explicou direito a troca para o saxofone, embora se acredite que o consumo excessivo de bebida seja o motivo. Mas a música brasileira foi enriquecida pelos contrapontos que fazia no sax e com o lançamento de dezenas de disco em dupla com o flautista Benedito Lacerda, certamente um dos momentos mais altos do choro em matéria de gravações.

Em fins de 1945, Pixinguinha participou da estréia do programa “O pessoal da Velha Guarda”, dirigido e apresentado pelo radialista Almirante e que contava também com a participação de Benedito Lacerda.

Em julho de 1950, uma iniciativa inédita de Pixinguinha: gravou cantando o lundu da sua autoria (letra de Gastão Viana) Yaô Africano, que fora gravado em 1938.

Em 1951, o prefeito do Rio, João Carlos Vital, nomeou-o professor de música e de canto orfeônico (ele era funcionário da prefeitura desde a década de 1930). Até aposentar-se deu aulas em várias escolas cariocas.

A partir de 1953, passou a freqüentar o Bar Gouveia, no Centro da cidade, numa assiduidade interrompida apenas por problemas de doenças. Acabou contemplado com uma cadeira permanente, com o seu nome gravado, na qual apenas ele poderia sentar.

Um grande acontecimento foi o Festival da Velha Guarda, que comemorava o quarto centenário da cidade de São Paulo, em 1954. Pixinguinha reuniu o seu pessoal
da Velha Guarda (mais uma vez sob o comando de Almirante) e realizaram várias apresentações no rádio, na televisão e em praça pública com a assistência de dezenas
de milhares de paulistas. Antes da volta ao Rio, Almirante recebeu uma carta do presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, dizendo, entre outras coisas,
que, “dentre todas as extraordinárias festividades em que se comemora o quarto centenário, nenhuma teve maior repercussão em São Paulo, nem conseguiu tocar mais
profundamente o coração do seu povo”.

Em 1955, foi realizado o segundo Festival da Velha Guarda, mas sem a repercussão do primeiro. O mais importante de 1955, para Pixinguinha, foi a gravação do seu primeiro long-play, com a participação dos seus músicos e de Almirante. O disco recebeu o nome de “Velha Guarda”.

No mesmo ano, a turma toda participou do show O samba nasce no coração, na elegante casa noturna Casablanca. No ano seguinte, a rua em que ele morava, no bairro de Ramos, a Berlamino Barreto, ganhou o nome oficial de Pixinguinha, graças a um projeto do vereador Odilon Braga, sancionado pelo prefeito Negrão de Lima. A inauguração contou com a presença do prefeito e de vários músicos e foi comemorada com uma festa que durou dia e noite, com muita música e bastante álcool.

Em novembro de 1957, ele foi um dos convidados pelo presidente Juscelino Kubitschek para almoçar com o grande trompetista Louis Armstrong no Palácio do Catete.

Em 1958, depois de um almoço no clube Marimbás e sofreu um mal súbito.

No mesmo ano, seu conjunto da Velha Guarda foi o escolhido pela então poderosa revista O Cruzeiro para recepcionar os jogadores da seleção brasileira, que chegavam da Suécia com a Copa do Mundo conquistada.

Em 1961, fez várias músicas com o poeta Vinícius de Morais para o filme Sol sobre a lama, de Alex Viany. Em junho de 1963, sofreu um enfarte que o levou a passar várias internado num casa de saúde.

Em 1968, seus 70 anos (que, na verdade, como vimos, eram 71) foram comemorados com um espetáculo no teatro Municipal que rendeu um disco, uma exposição no Museu da Imagem e do Som, uma sessão solene na Assembléia Legislativa carioca e um almoço que reuniu centenas de pessoas numa churrascaria da Tijuca.

Em 1971, Hermínio Belo de Carvalho produziu um disco intitulado Som Pixinguinha, com orquestra e solos de Altamiro Carrilho na flauta.

Em 1971, um daqueles momentos que levavam seus amigos e considerá-lo santo: sua mulher, dona Beti, passou mal e foi internada num hospital. Dias depois, foi ele acometido de mais um problema cardíaco, foi também internado no mesmo hospital, mas, para que ela não percebesse que também estava doente, colocava um terno nos dias de visita e ia visitá-la como se estivesse vindo de casa. Por essa e por outras é que Vinícius de Morais dizia que, se não fosse Vinícius, queria ser Pixinguinha. Dona Beti morreu no dia 7 de junho de 1972, aos 74 anos de idade.

No dia 17 de fevereiro de 1973, quando se preparava para ser o padrinho de uma criança na Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, sofreu o último e definitivo enfarte. A Banda de Ipanema, que fazia naquele momento um dos seus mais animados desfiles, desfez-se imediatamente com a chegada da notícia. Ninguém queria saber de carnaval.

22.4.07

Jóias do Jequitinhonha

Coletânea resgata a música do Vale em seis discos, que teve lançamento sexta-feira, em Belo Horizonte. Projeto integra o programa de desenvolvimento sociocultural da região

Uma idéia imaginada, há alguns anos, pelo cantor e compositor Rubinho do Vale, a de fazer o mapeamento da música do Vale do Jequitinhonha, uma das mais ricas e criativas regiões do país, começa a ser coroada agora, com o lançamento da coletânea A Música do Jequitinhonha, com seis CDs: Cantigas do Vale, de Geovane Figueiredo; Frei Chico–Lira Marques, com Dona Generosa e Corais de Araçuaí; Queremos navegar, com o Coral Nossa Senhora do Rosário; Um trovador do Vale, de Pinaco, além de dois discos de Rubinho, Forró e Vida, Verso e Viola. Esse é um dos oito projetos que integraram o primeiro ano do Viva o Vale! – Programa de Desenvolvimento Sóciocultural do Vale do Jequitinhonha, patrocinado pela Avon do Brasil, com recursos da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais. A festa de apresentação dos discos, com a presença da maioria dos participantes, foi realizada sexta-feira no Music Hall, onde o forró, as cantigas de folia e outras manifestações culturais rolaram até altas horas.

Mineiro de Rubim, de onde saiu na década de 1970, Rubinho do Vale conta que está feliz com o resultado obtido. “Há tempos eu queria registrar, como ocorreu agora, o trabalho de alguns artistas populares do Vale, como Pinaco, de Rubim; Geovane Figueiredo, de Jordânia; Newton Oliveira, e outros, que são ótimos, mas ainda não haviam tido oportunidade de ver sua arte documentada em um disco”, diz o cantor. Com o pé na estrada, e muita disposição para levar adiante seu projeto, Rubinho foi ao encontro desses artistas do povo, alguns deles já mais velhos, como o excelente poeta popular Geovane Figueiredo, cuja obra estava inexplicavelmente inédita até agora. O CD com composições suas, Cantigas do Vale, do qual participam Wilson Dias, Carlos Farias, Tau Brasil, Nen Viana, Lucinho Cruz, Helena Santos, Newton Oliveira e outros, é um dos pontos altos da coleção. Ela traz, ainda, a arte de Pinaco, que, aos 88 anos, vive em Rubim, canta e conta no disco, além de “causos” engraçados, outros com algum apelo social.

A artesã Lira Marques e o lendário Frei Chico,, “um holandês mais brasileiro do que muitos brasileiros”, segundo Rubinho do Vale, também mostram que são bons de música no CD Frei Chico – Lira Marques, com Dona Generosa e Corais de Araçuaí. Rezas, folias de reis, benditos, canções para pedir que venha chuva, além de batuques, misturam-se nas cantigas, nas quais se percebe a essência musical do Vale do Jequitinhonha, onde a religiosidade sempre foi traço forte. O disco conta, ainda, com a participação especial dos corais Trovadores do Vale, Nossa Senhora do Rosário, do Arraial dos Crioulos de Araçuaí e do Arara Grandes.

Pela primeira vez Rubinho grava um disco só de forró. “À primeira vista, a música do Vale do Jequitinhonha parece ser melancólica e triste. Mas quis mostrar também nosso lado alegre e dançante nesse trabalho”, conta o cantor. O CD vem com participações de Margareth, Noeme, Gláucia, Déa Trancoso e do Trio Bodocó, da Paraíba, além de Bruno, de apenas 13 anos, e ainda de Wilson Dias e Carlos Farias. No outro disco, Vida, verso e viola, esse menestrel do Jequitinhonha – que diz ter sido influenciado no início da carreira pelo grupo Raízes, criado no início dos anos de 1970 pelos montes-clarenses Charles e Tino Gomes – canta e fala da sua vida, desde a infância, em Rubim, até a chegada a Belo Horizonte, onde sedimentou sua carreira musical. As capas dos discos, que lembram os trabalhos de alguns dos muralistas mexicanos, foram feitas pela artista plástica Marina Jardim.

Portal www.uai.com.br

Música de câmara em turnê


Meus compadres e comadres: estava eu "futricando" no Portal UAI e deparei-me com uma notícia (reeditada abaixo) que chamou-me a atenção. Fiquei feliz e lembrei da minha terra, Uberaba, onde lutamos para tentar implantar nossa tão sonhada orquestra. E por outro lado é bom a gente sempre estar mostrando iniciativas culturais do interior do nosso país que vem dando certo. Em Ouro Branco - MG, uma orquestra de câmara formada por jovens estudantes de música realiza uma turnê interpretando obras de compositores nacionais entre elas uma solicitada pela Orquestra ao compositor Ernani Aguiar. Parabéns à Casa de Música de Ouro Branco e parabéns aos músicos integrantes da Orquestra. Que este exemplo possa ser seguido em outras plagas, principalmente mineiras, tão carentes de iniciativas semelhantes.

Além do turismo de aventura, caminhadas e atividades ao ar livre, o projeto de desenvolvimento dos roteiros da Estrada Real oferece novos produtos como passeios a destinos ainda pouco explorados e atividades culturais variadas. Esta semana, por exemplo, a Orquestra de Câmara de Ouro Branco deu início à programação de concertos do projeto Circuito cultural, apresentando três obras inéditas dos compositores contemporâneos Avelar Jr., Rufo Herrera e Nelson Salomé.

A proposta é promover os eventos de forma descentralizada. Ontem, sábado (dia 21), o concerto foi em Tiradentes; hoje, domingo, em Belo Horizonte e Ouro Branco. Durante a apresentação, a orquestra estreará as peças Noctâmbulos, de Rufo Herrera; Pequena Fantasia, de Nelson Salomé; e Concertino para Viola e Cordas, de Avelar Jr. Também serão executadas as peças Peripécias, de Calimério Soares; e Sinfonietta Terza, de Ernani Aguiar, escritas especialmente para a Orquestra de Câmara de Ouro Branco por encomenda feita pela Casa de Música, entidade que mantém o grupo.

Como explica a coordenadora da Casa de Música, Kênia Libânio, a encomenda de obras faz parte de projeto que busca valorizar e incentivar a pesquisa e produção de composições contemporâneas da música erudita. Segundo o maestro Charles Roussin, a expectativa com as apresentações é grande. "Para a Orquestra de Ouro Branco, é sempre um grande desafio tocar músicas contemporâneas, visto que é formada por 20 jovens estudantes da Casa de Música. Esse desafio só vem somar ao nosso trabalho, pois o amadurecimento musical que conseguimos depois dos ensaios e concertos é gratificante".

Charles Roussin salienta a importância do projeto Circuito Cultural, cuja proposta é divulgar a música erudita e democratizar seu acesso. "A cada concerto, buscamos mostrar à cidade visitada um pouco mais sobre a música clássica, fazendo com que o público se sinta mais próximo desse universo de magia e emoção. Isso contribui para a desmistificar que a música erudita seja apenas para a elite", diz.

EXPOSIÇÃO

Já na área de artes visuais, a Estrada Real é tema de mostra em cartaz até dia 25 na Galeria de Arte Paulo Campos Guimarães, da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, na Praça da Liberdade, 21, Belo Horizonte (aberta de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h; sábado, das 8h às 12h). Em exposição o trabalho do pintor Jean-Paulo, Uma viagem através das aquarelas. Ele conta que a idéia do projeto envolvendo a Estrada Real nasceu durante apresentação de um programa de televisão que tinha foco centrado no tema. “As imagens do trajeto eram maravilhosas e naquele momento imaginei lindas aquarelas de cada uma. E a Estrada Real é isso, uma beleza natural que o homem incorporou à sua vida há séculos”, afirma o artista.

Antes de viajar pela região, ele estudou todo o percurso, e reuniu materiais necessários. O meio de transporte considerado mais adequado foi a bicicleta. Primeiro, Jean -Paulo condicionou-se fisicamente, para então seguir viagem. Passou por quase todas as cidades da Rota do Ouro: São Brás do Suaçuí, Entre Rios de Minas, Conselheiro Lafaiete, Lagoa Dourada, Tiradentes, São João del-Rei, Carrancas, Cruzilha, Baependi, Caxambu, Pouso Alto, Itamonte, Itanhandu, Passa Quatro, Cruzeiro, Cachoeira Paulista, Lorena, Guaratinguetá, Cunha e Paraty. Depois de fotografar o que mais chamou sua atenção, ele fez reproduções nas telas.

ORQUESTRA DE CÂMARA DE OURO BRANCO - Apresentações sob regência do maestro Charles Roussin. Hoje (dia 22), às 11h, na Fundação de Educação Artística, Rua Gonçalves Dias, 320, Bairro Funcionários, em Belo Horizonte. Às 19h, na Capela de Santana da Fazenda Pé do Morro, na Rodovia MG-129, km 174, em Ouro Branco. Em Tiradentes e Ouro Branco, a entrada é franca. Em Belo Horizonte os ingressos custam R$ 5 (inteira) e R$ 1 (para estudantes da Fundação de Educação Artística).

21.4.07

Tiradentes

Meus compadres e comadres: antes de qualquer coisa gostaria de informar que esta ilustração ao lado foi o símbolo da Inconfidência Mineira e daí saiu a bandeira de Minas Gerais. Mas o que eu queria dizer é que o grande jornalista Júlio Chiavenato dedicou seu comentário de hoje, no Jornal A Cidade, à figura consagrada do alferes Tiradentes, Inconfidencia Mineira e elite. Esta última representada pelos artistas da época na sua maioria poetas. Júlio, sem precisar de muitas linhas, faz uma síntese do que de fato foi a Inconfidência Mineira.
Nisso que dá aliar-se à elite. Fico lembrando de alguns exemplos que a história nos legou, por exemplo: a política de aliança do PCB, na década de 30 no que deu; a política de aliança do Governo Lula, em seu primeiro mandato, no que deu; até aqui, na Sinfônica de Ribeirão, a história se repetiu: deu no que deu. Acabei sendo o alferes daqui. A gente precisava aprender mais rápido e a história está aí para nos ajudar. Mas eu, turrão, aprendi.
Vamos ao que o Júlio falou hoje no jornal.

"Por exemplo, Alvarenga Peixoto. Poetão, intelectual diplomado em Coimbra. Coronel e juiz, acumulou fortuna imensa. Casou com Bárbara Heliodora, uma paulista milionária.
Cláudio Manuel da Costa? Poetão e agiota tão rico que em 1761 comprou por 120 quilos de ouro o Hábito de Cristo.
Mais padres com concubinas mulatas e negócios suspeitos; militares traiçoeiros, advogados trapaceiros. Ainda sobravam gonzagas e marílias de dirceus, ricos senhores de escravos rimando pelas gerais, falando em liberdade e descendo a chibata na negrada. Tinham lavras, criavam gado. Mas estavam falidos. O ouro escasseava nas minas, os africanos cada vez mais caros. Perderiam tudo. Então, inventaram a Inconfidência. Do outro lado um arrancador de dentes pobretão, nas figuras ora com barba, ora desbarbado. O Estado o promoveu a herói e mártir: o perigo já passou mesmo. Joaquim José da Silva Xavier foi um dos muitos brasileiros que acreditaram nas elites intelectuais (que por coincidência sempre têm grana e bons empregos). Foi tudo, de mascate a tiradentes. Não passou de alferes.
Queria falar francês. Aos 40 anos decidiu ser engenheiro e cismou de resolver o abastecimento de água do Rio de Janeiro. Mas entrou na conversa dos poetas agiotas milionários e levou a sério a conspiração. Moral da história: a gente fina tirou o corpo fora, Gonzaga disse que o alferes era “pobre, sem respeito e louco”. Ninguém assumiu e o Tiradentes pagou o pato, não dedou nenhum e arrostou Portugal.
Morreu enforcado pra largar de ser besta. Hoje é herói de muito ibope, feriado e romanceiro da Cecília Meireles.
Os poetas agiotas milionários livraram a cara na história e botaram a culpa no Silvério dos Reis".

Tá vendo???

20.4.07

Mudanças ortográficas e unificação da Lingua Portuguesa

Está para entrar em vigor a unificação da Língua Portuguesa que prevê, entre
outras coisas, um alfabeto de 26 letras.

"A frequência com que eles leem no voo é heroica!". Ao que tudo indica, a frase inicial desse texto possui pelo menos quatro erros de ortografia. Mas até o final do ano, quando deve entrar em vigor o "Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa", ela estará corretíssima. Os países-irmãos Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste terão, enfim, uma única forma de escrever.

As mudanças só vão acontecer porque três dos oito membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) ratificaram as regras gramaticais do documento proposto em 1990. Brasil e Cabo Verde já haviam assinado o acordo e esperavam a terceira adesão, que veio no final do ano passado, em novembro, por São Tomé e Príncipe.

Tão logo as regras sejam incorporadas ao idioma, inicia-se o período de transição no qual ministérios da educação, associações e academias de letras, editores e produtores de materiais didáticos recebam as novas regras ortográficas e possam, gradativamente, reimprimir livros, dicionários, etc.

O português é a terceira língua ocidental mais falada, após o inglês e o espanhol.
A ocorrência de ter duas ortografias atrapalha a divulgação do idioma e a sua prática em eventos internacionais. Sua unificação, no entanto, facilitará a definição de critérios para exames e certificados para estrangeiros.

Com as modificações propostas no acordo, calcula-se que 1,6% do vocabulário de Portugal seja modificado.

No Brasil, a mudança será bem menor: 0,45% das palavras terão a escrita alterada. Mas apesar das mudanças ortográficas, serão conservadas as pronúncias típicas de cada país.

O QUE MUDA

As novas normas ortográficas farão com que os portugueses, por exemplo, deixem de escrever "húmido" para escrever "úmido". Também desaparecem da língua escrita, em Portugal, o "c" e o "p" nas palavras onde ele não é pronunciado, como nas palavras "acção", "acto", "adopção", "baptismo", "óptimo" e "Egipto".

Mas também os brasileiros terão que se acostumar com algumas mudanças que, a priori, parecem estranhas. As paroxítonas terminadas em "o" duplo, por exemplo, não terão mais acento circunflexo. Ao invés de "abençôo", "enjôo" ou "vôo", os brasileiro terão que escrever "abençoo", "enjoo" e "voo".

Também não se usará mais o acento circunflexo nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos "crer", "dar", "ler", "ver" e seus decorrentes, ficando correta a grafia "creem", "deem", "leem" e "veem".

O trema desaparece completamente.
Estará correto escrever "linguiça", "sequência", "frequência" e "quinquênio" ao invés de lingüiça, seqüência, freqüência e qüinqüênio.

O alfabeto deixa de ter 23 letras para ter 26, com a incorporação do "k", do "w" e do "y" e o acento deixará de ser usado para diferenciar "pára" (verbo) de "para" (preposição).

Outras duas mudanças: criação de alguns casos de dupla grafia para fazer diferenciação, como o uso do acento agudo na primeira pessoa do plural do pretérito perfeito dos verbos da primeira conjugação, tais como "louvámos" em oposição a "louvamos" e "amámos" em oposição a "amamos", além da eliminação do acento agudo nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas,como "assembléia", "idéia", "heróica" e "jibóia".

ANTÔNIO HOUAISS

A escrita padronizada para todos os usuários do português foi um estandarte
de Antônio Houaiss, um dos grandes homens de letras do Brasil contemporâneo,
falecido em março de 1999. O filólogo considerava importante que todos os
países lusófonos tivessem uma mesma ortografia. No seu livro "Sugestões para
uma política da língua", Antônio Houaiss defendia a essência de embasamentos
comuns na variedade do português falado no Brasil e em Portugal.

Banda Sinfônica neutraliza sua emissão dos gases de efeito estufa

Meus compadres e comadres. Está aí um exemplo a ser seguido.

A Banda Sinfônica do Estado de São Paulo é a primeira orquestra do Brasil a neutralizar todos os gases de efeito estufa (GEE) produzidos em suas apresentações com a adesão ao Programa Carbono Neutro, da MaxAmbiental. Numa parceria inédita entre a Banda, a MaxAmbiental e a SOS Mata Atlântica, a emissão de gases efeito estufa - responsável pelo aquecimento global -, bem como resíduos e lixo produzidos em cada um dos concertos, serão neutralizados pelo plantio de árvores. A estréia dessa ação pioneira aconteceu em março com o espetáculo Águas da Amazônia, junto com o grupo mineiro Uakti, no Teatro Cultura Artística.

Para compensar toda a produção de gases que afetam a atmosfera da Terra em uma apresentação da Banda Sinfônica, como locomoção do público (uma média de duas pessoas por carro), transporte de artistas e equipamentos, consumo de energia elétrica e geração de lixo, entre outros itens, haverá o plantio em média de 27 árvores. Durante este ano, a Banda deverá realizar aproximadamente 40 espetáculos o que resultará no plantio de mais de mil árvores.

O plantio e manutenção das árvores serão realizados pela Organização S.O.S Mata Atlântica dentro do Projeto Florestas do Futuro, um programa de recuperação de bacias e sub-bacias hidrográficas pela recomposição de matas ciliares. Por meio deste programa, que também desenvolve ações de educação ambiental visando à conscientização da comunidade sobre a importância da conservação das florestas, em especial da Mata Atlântica, a Fundação S.O.S Mata Atlântica busca criar um modelo de reflorestamento com espécies nativas, que envolve a iniciativa privada, a sociedade civil e o poder público.

Para Abel Rocha, diretor artístico e regente titular, “a Banda Sinfônica é responsável pela criação e manutenção de um enorme Patrimônio Cultural, representado pelo acervo de obras escritas especialmente para nosso grupo. As recentes e alarmantes notícias sobre o aquecimento global nos levaram a refletir: se podemos assumir a responsabilidade por este patrimônio cultural, por que não poderíamos fazê-lo também com relação ao meio ambiente que, afinal, é Patrimônio de todos nós?”.

O próximo espetáculo da Banda será com o percussionista brasileiro radicado nos Estados Unidos, Airto Moreira, e marca a abertura da temporada de assinaturas de 2007 da Banda Sinfônica, no dia 11 de abril, às 21h00, no Teatro Cultura Artística, com a regência do maestro Abel Rocha.

Como funciona, quem faz
CarbonoNeutro® é um selo que promove o uso da Neutralização de Carbono como ferramenta adicional de marketing e comunicação institucional, por meio do desenvolvimento de programas dirigidos a públicos de interesse. O selo é um ícone desenvolvido pela MaxAmbiental, empresa de finanças ambientais que viabiliza projetos de crédito de carbono, para a identificação pública de produtos, serviços, ações, instalações e eventos que tiveram seus volumes de emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa) neutralizados por meio de projetos ambientais reconhecidos e auditados. Os programas são respaldados em projetos de plantios de árvores, conservação de biomas ambientais ou energia renovável. São auditados, comprovados, eficientes e atestado pelo selo Carbono Neutro.

A neutralização dos gases acontece na mesma proporção da emissão, o que é comprovado a partir da medição. Essa avaliação das emissões de gás carbônico é feita por meio de ferramenta científica e certificada internacionalmente. A MaxAmbiental faz o levantamento completo das atividades da empresa e nesses cálculos do volume de emissões entram passagens aéreas, lixo produzido, gasto em combustíveis de veículos, energia elétrica, matéria-prima, materiais, transporte, pessoal, entre outros.

A partir da constatação do volume emitido de gás carbônico, a empresa realiza a neutralização através da compensação em projetos ambientais. Até o momento, 59 mil toneladas de dióxido de carbono despejados na atmosfera foram neutralizadas pela MaxAmbiental com o plantio de 28 mil árvores, em parceria com o Projeto Florestas do Futuro da SOS Mata Atlântica.

Banda Sinfônica
A Banda Sinfônica é um corpo Profissional da Secretaria de Estado da Cultura, criado em 1989, é o mais importante e completo grupo do gênero na América Latina. Foi dirigida anteriormente pelos Maestros Roberto Farias e Daniel Havens e tem como regente assistente a Maestrina Érika Hindrikson. O Maestro Abel Rocha é o Diretor Artístico e Regente Titurar.

Pescado da Agência Carta Maior

16.4.07

Não deixe desativar!

Meus compadres e comadres:
"Imagine um lugar onde se pode ler gratuitamente as obras de Machado de Assis, ou A Divina Comédia, ou ter acesso às melhores historias infantis de todos os tempos. Um lugar em que se pode ver as grandes obras de Leonardo Da Vinci, onde se pode escutar músicas em MP3 de alta qualidade... pois esse lugar existe!

O Ministério da Educação disponibiliza tudo isso. Basta acessar o site: www.dominiopublico.gov.br

Só de literatura portuguesa são 732 obras!
Estamos em vias de perder tudo isso, pois corre o boato que vão desativar o projeto por desuso, já que o número de acessos é muito pequeno.

Vamos tentar reverter esta desgraça, divulgando e incentivando amigos, parentes e conhecidos, a utilizar essa fantástica ferramenta de disseminação da cultura e do gosto pela leitura.

Incentive, principalmente a alunos e professores.

É inteiramente grátis. Pode-se fazer download das obras e dos arquivos de mídia".

Uma estranha alegria feita de dúvidas

"São milhões de perguntas para as quais não tenho resposta, daí o estímulo para esta missiva a um possível futuro imaginário!"

por Jorge Mautner*


Espero que você que achou esta mensagem perdida no tempo possa responder-me certas dúvidas que pairam como nuvens agudas de tormenta nos céus e espaços do meu tempo. Sei que não conhecerei suas respostas, mas sei também que, de algum modo, uma estranha alegria percorre meu corpo ao lançar para o futuro estas perguntas.

Será que o terrorismo em todos os seus sentidos e significados já não existirá em sua época? Será que não terá havido o holocausto atômico? Ou a pandemia natural ou mesmo a forjada em laboratórios de armas de guerra disseminadas em todos os países do globo terrestre?

Mais ainda: será que, em seu tempo futuro, germinaram as palavras do Papa Bento XVI que dizem que as chaves para o século XXI são a piedade e a reconciliação? E como ficou tudo isso com o Papa abraçando Karl Marx, mas continuando a combater Darwin? E as liberdades de todos os direitos humanos já triunfaram?

São milhões de perguntas para as quais não tenho resposta, daí o estímulo para esta missiva a um possível futuro imaginário!

E o Brasil? Já é um país superdesenvolvido? Ou isto já não existe? E o planeta está unido sob o comando de uma confederação global de representantes democráticos de todos os lugares? E o presidente desta confederação mundial será um ser humano, um humano mutante, ou um poderoso computador-presidente?

E o ser humano já foi totalmente reconstruído por meio da nanotecnologia, da manipulação do DNA, e do genoma, e dos novos conhecimentos sobre o funcionamento do cérebro? Já se atingiu o fim das doenças e a construção do ser humano imortal?

E o crime? Já foram instalados em todas as criaturas que perambulam pela Terra os chips de controle? Mais do que isso: chips de controle e de bom comportamento social e ético. Simples assim: instalados, no cérebro, chips que, além de serem de controle, também são mantenedores da lei e da ordem? Serão chips que, colocados em cada indivíduo, têm o poder de, no caso de um leve desvio de conduta, aplicarem instantaneamente um pequeno choque elétrico em seu portador e, em caso de algo mais grave, um crime por exemplo, paralisar o indivíduo que o pratica, no mesmo instante, até que venha a polícia. Ou será que, se for falta grave, crime hediondo, como o estupro seguido de morte, ao invés de paralisado, o indivíduo será, na hora mesma do delito, executado?

E o aquecimento global? Conseguiram detê-lo? Ou será que a poluição humana era apenas o nosso último e vaidoso engano de poder? Será que foi a própria mãe terra em suas misteriosas convulsões geológicas de astro quase poeira do universo que entrou em natural e cíclico aquecimento inexorável?

E a democracia universal com o presidente computador é uma democracia participativa? Até que grau chegou a participação democrática? Será que foi tão forte que chegou a desfigurar em outra coisa o sistema democrático original?

Será que o programa dos Pontos de Cultura, criados por Gilberto Gil em sua gestão no Ministério da Cultura do Brasil, cuja execução está a cargo de Célio Turino - autor do maravilhoso livro Na trilha de Macunaíma - já se multiplicaram pelo mundo como prática exemplar de exercer cultura dando a cada ponto sua total autonomia dentro da diversidade em constante mutação da imensa amálgama humana? E será que o Brasil que José Bonifácio, em 1823, definiu dizendo que esta amálgama é o que nos diferencia dos outros países, pois amálgama é mais do que mistura, mais do que miscigenação, é uma constante alquimia que se reinterpreta simultaneamente, como a amazônica pororoca. Será que esta amálgama continua a nos definir e a nos conduzir? Será que ela foi adotada e imitada pelo resto do planeta? Foi este o caminho da paz?

E no mundo dos espetáculos? Será que vocês já tem holograma que projeta em terceira dimensão a figura da cantora gostosa, num simulacro em que se pode até sentir o cheiro do seu cabelo, seu corpo, seu perfume, seus lábios carnudos, pois já será possível reproduzir todos os aromas e cheiros eletronicamente? E o que dizer da interação artística que permite cantar junto com a cantora gostosa e cheirosa? E mais ainda: interagindo sexualmente com ela por meio de uma super-máquina de orgasmo digital e cibernético que chega a provocar o orgasmo de nível 8?

A estranha alegria percorre meu corpo, junto com as perguntas lançadas ao futuro.

*Jorge Mautner é poeta, escritor, violinista, pianista, bandolinista, compositor, cineasta, artista plástico e cantor.

Fonte: Agência Carta Maior

Arte e Educação (5)

O QUE O ARTISTA ENSINA?

Em nosso último artigo, iniciamos uma discussão sobre a importância do professor de Arte estar envolvido e desfrutar para si mesmo o universo da arte para que possa com mais compromisso e competência trabalhar esta área do conhecimento. Conversamos sobre o professor-artista, sobre o trabalho pedagógico que não pode excluir ou abafar o trabalho estético e artístico no ambiente escolar.

As respostas, contribuições que recebemos, foram unânimes: “o professor precisa ter seu lado 'artista'”. Com isso, os leitores indiretamente iniciaram um outro debate tão pertinente quanto o primeiro: será que basta ser artista para poder ensinar?

Sem dúvida, são inúmeras as contribuições dos artistas para o aprendizado da arte na escola. Aliás, sem os artistas, não haveria sequer razão para cogitar uma aula de Arte nos currículos. Há pelo menos duas décadas, graças às contribuições de Ana Mae Barbosa e de sua geração de arte-educadores, o ensino de Arte tem sido intimamente ligado ao universo dos artistas, dos “fazedores” de arte.

Criar obras de arte é o papel dos artistas em sociedade, portanto, nada mais significativo do que trabalhar a arte nas escolas relacionadas ao ato de criar. Mas isso só não basta: conhecer e apreciar obras de arte, suas histórias e a dos artistas que as fizeram, seus conceitos estéticos, e, principalmente, relacionar todo esse saber ao cotidiano dos alunos e às suas produções artísticas é dar à arte o tratamento que ela merece: o de área de conhecimento.

As gravuras, vídeos, gravações, livros de e sobre artistas não podem faltar nas salas de aula. “Trazer” os artistas para escola é vital para um processo de construção de conhecimento que se pretenda crítico e transformador. A presença em pessoa do artista na escola por meio de espetáculos, exposições, palestras, demonstrações etc. pode ser também muito rico para o aprendizado dos alunos.

O artista não traz somente o glamour para a escola, ou um jeito diferente de vestir-se, de falar, de andar, de expressar-se. O artista traz principalmente um outro jeito de ver o mundo, de relacionar-se com as pessoas e de compreender as redes de relacionamentos existentes no nosso cotidiano.

Mas são todos os artistas que têm alguma contribuição significativa para compartilhar e contribuir no processo de conhecimento em arte dos alunos na escola?

Quando o artista é trazido em pessoa para a escola, qual o papel dele? O artista que é criador, intérprete, diretor, regente é também automaticamente professor? Talvez seja este um dos grandes equívocos do corpo docente e administrativo das escolas que se “encantam” com a arte – achar que os artistas também têm necessariamente preparo e genuína vontade de ensinar.

Infelizmente, não são raros os artistas que, desamparados financeiramente, buscam o caminho do ensino – nas escolas, nas academias, nas ONGs, nos programas pós-escola. Ou seja, ensinar arte “na escola” tornou-se muitas vezes uma garantia financeira para o artista, um salário garantido todo mês. Assistimos hoje a uma verdadeira “corrida do ouro” de companhias de dança, grupos de teatro, artistas independentes, - outrora sem vínculo nenhum ou sem gosto algum pela educação, - hoje encontrando na escola seu amparo e manutenção.

Como as escolas têm recebido estes artistas? Intimidando-se com seu glamour, apequenando-se com o virtuosismo e segurança pessoal dos artistas? Aceitando ingenuamente o conhecimento que trazem, sem questionamento ou interlocução? Ou será que diretores, coordenadores e até mesmo professores de arte estão conseguindo dialogar positivamente com os artistas em função de seus projetos político-pedagógicos?

Além dos “artistas pobres”, muitas vezes são também os “artistas frustrados” os que buscam a área de ensino. Como não conseguiram realizar-se no sistema da arte, tentam a educação com válvula de escape. Mais uma vez, quantos não são os professores e diretores, sem parâmetros de qualidade artística, que aceitam ingenuamente e glorificam os artistas em sala de aula, abrindo mão de princípios pedagógicos, ou de posturas educacionais significativas? O que se assiste hoje, principalmente nas áreas de arte menos conhecidas pelo universo escolar - como a dança e o teatro - é a uma total falta de referências sobre os princípios educacionais que devem reger o ensino das artes.

Ao passar a peteca do ensino para artistas despreparados pedagogicamente – mas com a segurança e a aparência de profundos conhecedores de arte – a escola corre o sério risco de incidir em processos de ensino-aprendizado totalmente arcaicos, acríticos, reprodutores, ingênuos e, principalmente, desarticulados, baseados muitas vezes apenas nas experiências pessoais do artista. Ou seja, o artista que chega à escola para ensinar no lugar do professor – e não para compartilhar sua arte com os alunos e com os professores – pode estar trazendo a velha e arcaica pedagogia da cópia, da técnica vazia, do virtuosismo, do decorar sem pensar, ou ainda, do 'laissez-faire', da “intuição”, do “deixa rolar”.

Por que será que em geral a escola abaixa a cabeça para a arrogância pessoal e ignorância pedagógica de alguns artistas? Por que em geral não questiona seus métodos, metodologias, posicionamentos diante dos alunos? Por que não solicita projetos artísticos articulados com os projetos da escola? Por que as escolas em geral dão lugar a qualquer arte e a qualquer artista? A falta de professores de arte em todas as linguagens artísticas ou a falta de competência dos professores existentes pode ser uma resposta.

Quando o professor de artes visuais chama o dançarino de hip-hop para trabalhar com seus alunos, ou a quando a pedagoga chama o violeiro para tocar para seus alunos, por não saberem dançar ou tocar, por não terem o domínio do conteúdo específico: não podem intimidar-se ou ter medo de opinar e interferir no aprendizado, ou seja, nas questões pedagógicas do ensino de Arte.

Se não aceitamos mais a cópia de textos na área de Português, por que aceitamos que um artista entre na escola e faça uma coreografia para os alunos copiarem sem que participem e/ou compreendam no corpo aquilo que estão dançando? Se já sabemos quão ultrapassada é a memorização mecânica da tabuada na área de matemática, por que aceitamos que um regente venha para a escola e ensine os alunos a cantar mecanicamente sem entender, sem ouvir, sem perceber a música? Se conhecemos e aprovamos o processo de “ação-reflexão-ação” tão trabalhado por Paulo Freire na sistematização do saber nas aulas, por que não nos importamos quando um artista entra na escola e só trabalha “intuitivamente”?

Há várias respostas possíveis: ou o corpo docente/administrativo menospreza e não se incomoda com a arte na escola, ou ignoram a importância do conhecimento da linguagem da arte na educação de seus alunos. Ou ainda: será que a arte continua sendo uma grande caixa preta que precisa ser aberta, desvelada e, principalmente, conhecida a fundo em suas intersecções com o ensino e com a sociedade? Se estas forem as respostas, cabe aos professores de Arte e aos artistas comprometidos com a educação abrir esta caixa e fazer dela um grande espetáculo na escola.


Isabel Marques e Fábio Brazil, professores e artistas, dirigem o CALEIDOS ARTE E ENSINO em São Paulo, capital, ministrando cursos e prestando assessoria a secretarias de educação, escolas públicas e privadas nas áreas de dança e poesia.

Pescado do Portal Carta Maior

15.4.07

Arte e Educação (4)

QUEM NÃO SABE ENSINA?

O Brasil é um país em cujo cotidiano as manifestações artísticas estão muito presentes; das festas populares - que integram as artes cênicas, visuais e a música - aos shows abertos; dos bailes das periferias às exposições e mostras de arte; da grandiosidade dos desfiles de carnaval ao hábito de tocar e cantar nos encontros com amigos e familiares; do rádio ou som sempre ligados às atrações veiculadas pela mídia televisiva. Nossos alunos estão sempre expostos a diversas manifestações artísticas.

Um dos papéis essenciais da escola é justamente abrir vias para que os alunos melhor compreendam, desfrutem e tenham experiências estéticas significativas diante dessas ofertas. É papel do professor e da escola oferecer aos alunos possibilidades de criar e recriar relações com a arte produzida e manifestada em sociedade.

A sistematização do saber – e não a chateação do saber! – é um dos grandes trunfos da escola para que as relações entre a arte produzida em sociedade e os alunos não sejam relações ingênuas, passivas ou reprodutoras, mas sim participativas e criativas – transformadoras!

É principalmente o professor de Arte que tem entre suas funções abrir as portas e construir para/com os alunos pontes para o “mundo da arte lá de fora”, pontes de mão dupla, ou seja, articulando a “arte lá de fora” com o projeto e o planejamento da escola e do professor. Para que isto aconteça, é crucial que o próprio professor não se isole, mas seja ele mesmo um freqüentador, um fazedor, um “fã” da arte.

Infelizmente, não são poucos os professores de Arte que só pisam em um museu quando estão levando seus alunos; ou mesmo aqueles que se satisfazem somente com o ensino superficial e linear da história da Arte em suas aulas, sem jamais aprofundar a apreciação, pegar em um pincel, mover um dedo ou apurar os ouvidos. Muitos professores não sentem falta, não se frustram e não se incomodam com a falta de arte em suas vidas. Como então, compartilhar, ensinar, produzir, compreender arte com seus alunos na escola?

O professor que respira arte, ou seja, que “sabe arte em seu corpo”, que se transforma ao ser tocado por uma obra, que curte “sujar as mãos”, “por a mão na massa”, “soltar o gogó” e “pisar no palco”, com certeza terá um trabalho diferenciado com seus alunos, poderá compartilhar com eles o universo da arte em seus aspectos mais amplos. O professor que vibra ao descobrir um novo livro, um novo artista, um novo museu, que vibra ao descobrir outra faceta de seu artista predileto, ou ao revisitar com os alunos seu repertório de obras conhecidas, sem dúvida terá muito mais a trocar e a ensinar a seus alunos, construindo assim conhecimento significativo.

Ou seja, é essencial que o professor assuma também, sem susto e sem medo, sua função de artista, de produtor, de pesquisador e de apreciador de arte. Esta é uma das grandes riquezas a serem vividas e discutidas com os alunos. É importante que o professor de Arte torne-se um professor-artista, e não um mero passador de técnicas ou informações.

Não precisamos necessariamente sair da escola, chamar artistas ou espetáculos de fora, mostrar vídeos e gravuras para compartilharmos com os alunos o mundo da arte. Não queremos com isso dizer que estas atividades não sejam importantíssimas, muito pelo contrário, elas são fundamentais para o ensino de Arte, mas trataremos deste tema em outra oportunidade. Queremos enfatizar aqui a necessidade, a propriedade, a maravilha do professor ser ele mesmo um pedaço do mundo da arte que adentra os muros da escola.

Por que não montar uma coreografia para dançar e discutir com seus alunos? Por que não trazer suas pinturas para a sala de aula e relê-las? Por que não tocar uma peça ou cantar uma canção para que os alunos também entrem em cena? Por que não recitar um poema ou fazer uma leitura de um texto teatral para os alunos? Claro, a sala de aula não pode virar palco de exibicionismo por parte do professor, menos ainda um lugar de depósito das frustrações do mesmo. A sala de aula deve ser um lugar significativo de conhecimento de arte.

Muitas vezes, no entanto, são justamente os ditos “menos artistas”, os “artistas frustrados”, os “artistas medrosos” ou ainda os alunos que foram taxados nos cursos superiores de “não talentosos” que resolvem abraçar a função do ensino. Será que isso tudo verdade? Só quem não sabe, ensina?

Por que não são reconhecidos, nos cursos superiores, os alunos que têm seu talento artístico voltado para o ensino?

Precisamos, ao contrário do que tem sido feito, valorizar os professores que não se afastaram do mundo da arte, valorizar os profissionais que têm este talento híbrido: artístico e pedagógico. Estes profissionais muitas vezes não encontram espaços de trabalho, pois não são artistas convencionais nem professores tradicionais, acabam rechaçados tanto no mundo da arte quanto no mundo da escola.

Não são poucas as escolas que temem que os professores-artistas influenciem negativamente os alunos com rebeldia, desorganização, irresponsabilidade, bagunça e desrespeito às normas estabelecidas. Aquilo a que assistimos hoje na escola como reprimenda aos professores ousados muitas vezes não passa de uma reprodução, na escola, do processo de marginalização do artista em sociedade. É importante ressaltar que aqueles que efetivamente contaminam os alunos com irresponsabilidade e rebeldias tolas não estão sendo nem professores nem artistas, mas sim distorcendo o ensino de arte e reproduzindo um estereótipo também tolo a respeito do artista.

É preciso que as escolas não expulsem os professores-artistas, ousados em suas práticas, não os taxe de excêntricos malucos, não punam suas iniciativas. As escolas, muitas vezes não compreendem – ou tem medo de compreender - o papel transformador que o ensino de arte vivenciado, pensado, respirado e compartilhado com professores-artistas pode exercer para os alunos na sociedade em que vivemos.

Isabel Marques e Fábio Brazil, professores e artistas, dirigem o CALEIDOS ARTE E ENSINO em São Paulo, capital, ministrando cursos e prestando assessoria a secretarias de educação, escolas públicas e privadas nas áreas de dança e poesia.

Pescado do Portal Carta Maior

Arte e Educação (3)

E AÍ, PROFESSOR?

Quem ensina Arte na escola? Esta é mais uma pergunta aparentemente óbvia, mas não é. A arte não chega à escola somente pelas mãos dos professores de Arte. Ao contrário, cada vez mais temos assistido a programas de governo, de ONGs, de fundações e instituições levando arte para dentro das escolas e, muitas vezes, alijando o professor de Arte do processo. A arte tem chegado às escolas pelas mãos e pés de voluntários, de “amigos da escola”, de artistas ou amadores nas “escolas abertas”, nos “recreios nas férias”, nos festivais e programas promovidos pelas próprias Secretarias de Educação.

É louvável que a comunidade esteja cada vez mais participando das atividades das escolas. Aliás, esta abertura dos portões escolares estabelece vínculos e diálogos de extrema importância para o trabalho pedagógico. Não estamos, portanto, excluindo da escola a participação digna, justa e muito interessante dos artistas, dos pais, dos amigos e das instituições que trabalham com arte na sociedade. No entanto, ao pensarmos sobre a função da arte na escola como forma de conhecimento, os voluntários, os artistas, os bem intencionados em geral, não deveriam ocupar o lugar do profissional professor de Arte.

Muitas vezes, esta confusão de papéis vem pelas mãos dos próprios gestores, diretores e coordenadores de escola que se encantam com a magia e o glamour dos artistas, com a disposição genuína dos voluntários ou com a generosa participação da comunidade, esquecem-se, porém, de avaliar a competência artístico-pedagógica dos mesmos. Outras vezes, a arte entra na escola por programas das Secretarias de Educação que patrocinam cursos, festivais e atividades de arte na escola até mesmo sem a presença ou opinião do professor de Arte e, portanto, sem continuidade no currículo escolar. Noutros casos ainda, pasmem, os próprios professores abdicam de suas funções pedagógicas e chamam artistas e voluntários para ministrar aulas, ficando alheios ao processo de ensino-aprendizagem ao qual seus alunos estão sendo submetidos.

Qual é realmente o papel do professor dentro da escola? O que o diferencia dos artistas e dos voluntários da arte na educação?

Em primeiro lugar, pensamos que o professor conhece a escola – ou deveria conhecer - sua dinâmica cotidiana, dificuldades, entraves e, sobretudo, suas possibilidades. O professor, diferentemente dos membros da comunidade, vive e respira o cotidiano escolar, tem a cumplicidade e o compromisso necessários para implementar projetos, dialogar com a comunidade e de acompanhar as relações entre processos e produtos de seus alunos.

Em segundo lugar, cabe ao professor, e não ao artista, a organização do currículo a ser trabalhado na escola durante o ano e durante os ciclos. É o professor que deveria saber diferenciar programas e projetos com continuidade e significado de um conjunto de atividades mal amarradas ou de espetáculos alheios ao projeto político-pedagógico da escola.

Somente o professor foi – ou deveria ter sido - preparado para estabelecer relações no tempo e no espaço entre arte, indivíduo e sociedade por meio de metodologias de ensino apropriadas. O ensino de Arte na escola não se dá por meio de colagens de “atividades que deram certo”, “que prenderam os alunos”, de atividades isoladas de qualquer contexto estético e social contemplado pelo planejamento do professor. É o professor que estabelece, enfim, relações entre a Arte e as outras formas de conhecimento trabalhadas na escola, problematizando, criticando e transformando estas relações. Espetáculos e aulas de técnicas diversas jogados dentro da escola por artistas, amadores, voluntários, pagos ou não pelo dinheiro público não cumprem esse papel.

É ainda papel do professor, e não de instituições desvinculadas da escola, conhecer a comunidade, o entorno da escola, e construir pontes entre a produção artística local e a instituição de ensino. Mais além, cabe ao professor, e não aos voluntários e organizadores de festas e festivais isolados, tecer redes significativas entre a arte local e a universal, entre o cotidiano dos alunos e as linguagens artísticas produzidas na escola e na sociedade.

Para isso, o professor precisa de autonomia para trabalhar e desenvolver seus projetos nas escolas e, claro, fazer jus a esta autonomia com compromisso, atualização, freqüentação e competência artística e pedagógica.

Vale, mais uma vez, perguntar: o professor está preparado e tem tido condições de trabalho para exercer dignamente seu papel? As escolas – e principalmente a arte na escola – não continuam sendo vítimas de descaso por parte dos poderes públicos? Pois é justamente esse descaso e a falta de estrutura das escolas que abrem portas para a entrada de todo tipo de colaboradores pretendendo trazer arte para a escola.

Os “amigos”, os voluntários, a comunidade podem levar arte para a escola, mas não podem ignorar e/ou substituir, por falta de competência específica para tanto, o trabalho do professor de Arte. Assim, torna-se também trabalho do professor de Arte articular a atuação desses “amigos” dentro do seu planejamento, da sua metodologia e do projeto político-pedagógico da escola.

Cabe-nos, sim, não dispensar esta colaboração, mas repensar urgentemente o papel do voluntário amador, do artista voluntário ou pago, dos pais, das ONGs na construção de conhecimento em Arte dentro das escolas. Mas é, definitivamente o professor o grande interlocutor entre o conhecimento e os alunos, entre a arte, o ensino e a sociedade.

Isabel Marques e Fábio Brazil, professores e artistas, dirigem o CALEIDOS ARTE E ENSINO em São Paulo, capital, ministrando cursos e prestando assessoria a secretarias de educação, escolas públicas e privadas nas áreas de dança e poesia.

Pescado do Portal Carta Maior

14.4.07

Arte e Educação (2)

MAS AFINAL, ARTE PARA QUÊ?

Para grande parcela da população, o professor de Arte ainda tem pouca importância, pouco espaço na escola e a Arte não é valorizada, ainda é vista como perfumaria. Então, por que ensinar Arte na escola?

A pergunta pode parecer absurda e ridícula para aqueles já convencidos da necessidade de termos Arte como uma componente curricular, mas não é. Se nós, os já convencidos, não formos capazes de responder clara e precisamente a essa questão, os não-convencidos ou aqueles que diluem Arte em Desenho Geométrico terão toda liberdade de desprezá-la, de não valorizá-la e, até mesmo, de pleitear o seu fim.

Podemos começar a conversa aceitando o fato de que, lamentavelmente, em muitas escolas, os professores e a matéria de Arte são mesmo “dispensáveis” (assim como muitos professores de matemática, geografia e inglês também!), pois não têm compromisso com o ensino, respeito pelos alunos e muito menos conhecimento específico de arte em si.

Por outro lado, quando temos contato com trabalhos sérios realizados por professores de Arte temos certeza absoluta do quão indispensável é esta área do conhecimento nas escolas e do quanto foram transformados os alunos que participaram destes processos de construção do conhecimento. Talvez caiba novamente uma pergunta – será que aqueles que não valorizam a arte na escola realmente tiveram acesso ao universo da arte e do artista por meio de seus professores?

Eis um primeiro bom motivo inicial para a presença da arte na escola: acesso.

Qualquer pessoa pode reconhecer o quanto do conhecimento, das leituras de mundo, das impressões e expressões da humanidade está registrado pela arte, representado pela arte, concretizado numa obra de arte, mobilizado no fazer artístico. Pois bem: ter Arte na escola é dar acesso a todas as crianças, jovens e adultos a esse conhecimento, sistematizando as diferentes linguagens que nos possibilitam interagir no mundo de uma forma diferente e diferenciada.

Surgem daí, duas questões - nossos interlocutores que desprezam o ensino de Arte nas escolas estão interessados em leituras múltiplas e diálogos críticos com o mundo em que vivemos? - Nossos professores de Arte, estão preparados para exercer o papel de articuladores do conhecimento e sistematizador de linguagens?

Já existem muitas teses, livros e artigos que argumentam em favor da arte na escola. Vamos a um outro argumento, simples e inicial, porém crucial para compreendermos o sentido da arte na vida em sociedade.

Uma vez articulada pelo professor, as diferentes linguagens artísticas possibilitam-nos diversas leituras de mundo imbricadas entre si e em movimento dialógico constante entre pessoas, tempos e espaços. As diversas leituras de mundo via diferentes linguagens – não somente a verbal – possibilitam-nos conhecer, reconhecer, re-significar e expressar o sentido da vida em sociedade.

Cada linguagem artística que conhecemos possibilita-nos um novo olhar e uma nova vivência de mundo. As linhas, cores, texturas, volumes propostos pelas artes visuais abrem-nos para leitura dos mundos de imagens em que vivemos. As formas, a ocupação do espaço, as qualidades do movimento presentes na linguagem da dança, abrem as portas para o corpo no mundo, para o ser corpóreo que somos. Os timbres, ritmos, melodias da linguagem da música, por sua vez, abrem as janelas dos sons, das diversas paisagens sonoras que compõem o nosso cotidiano. Pelo teatro, abrimos as portas das relações pessoais, das personagens, do texto, do espaço cênico. A visualidade, a sonoridade e forma das palavras tomam novo sentido ao estudarmos a linguagem da poesia. Ou seja, por intermédio do conhecimento e vivência das linguagens artísticas, tornamo-nos seres mais amplos, mais profundos, mais complexos, mais múltiplos e, conseqüentemente, mais conscientes e compromissados. Mas a quem interessa tudo isso?

Sim, eis mais uma pergunta justa. Ou o professor de Arte está interessado em tudo isso, ou não está ensinado arte. É importante termos certeza de que toda a potencialidade do ensino de Arte só se tornará real se o professor de Arte acreditar que pode atuar como agente transformador dos/com seus alunos e conseqüentemente da sociedade em que vivem e que esse é um dos focos essenciais do exercício da sua profissão. Caso contrário, continuaremos sendo professores dispensáveis colando bandeirinhas para a festa de São João.

Isabel Marques e Fábio Brazil, professores e artistas, dirigem o CALEIDOS ARTE E ENSINO em São Paulo, capital, ministrando cursos e prestando assessoria a secretarias de educação, escolas públicas e privadas nas áreas de dança e poesia.

Arte e Educação (1)

Meus compadres e comadres: a partir de hoje (14/04)estarei divulgando aqui no blog alguns artigos relacionados ao papel da arte nas escolas e de ambas em nossa sociedade. Os artigos foram pescados do portal Carta Maior. Vamos ao primeiro:


ARTE E ENSINO
Tente lembrar o nome da sua professora de Educação Artística do ginásio. Tente lembrar algum conteúdo de Educação Artística do seu primário. Tente avaliar quanto de sua relação com a arte hoje se deve ao que foi oferecido a você pela escola. Não se assuste se suas respostas foram: “não lembro” ou “não tive”, “nada” e “zero”, a maioria das pessoas responderia da mesma forma.

Não importa se o leitor cursou Pré-Primário, Primário, Ginásio e Colegial ou se é mais jovem e chame-os de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio; não importa se Educação Artística hoje seja chamada de Arte; existe um vácuo: o adulto fruidor-freqüentador-consumidor de arte ou não, raramente relaciona sua vivência de arte, na qualidade de cidadão, à convivência que teve com ela na escola.

A “arte da/na escola” e a arte freqüentada ou não-freqüentada pelo cidadão adulto após a escolarização pouco se comunicam. Não importa a idade que tenha ou a escola que freqüentou, para a maioria das pessoas, o vácuo permanece real e muitas vezes intocado.

É afirmar que todas as pessoas com escolarização básica no Brasil tiveram pelo menos uma aula de Arte por semana durante nove anos (8 anos no Ensino Fundamental e pelo menos mais um no Ensino Médio), nove anos! O que ficou? Se pensarmos em 40 semanas letivas, chegamos a 360 aulas de Arte para cada cidadão formado no Ensino Médio, sem contarmos os possíveis três anos de Educação Infantil.

Claro que a relação das pessoas com a arte ultrapassa as contribuições oferecidas pela escola e diz respeito a características da nossa cultura e cidadania. Mesmo assim, vale perguntar: qual o papel da Arte na escola? Qual o papel da escola na relação do futuro cidadão com a Arte?

Sabemos que essas perguntas conduzem-nos a centenas de outras que se desdobram em outras e mais outras. Mas o que adianta ficarmos prostrados diante de tanta complexidade? Temos que começar a discutir algumas perguntas, mesmo que se desdobrem e ampliem nossos questionamentos. Esse é o objetivo dessa coluna que hoje inauguramos: perguntar, responder, perguntar, dialogar, propor, perguntar.

Queremos estabelecer um diálogo constante que envolva toda a comunidade escolar a respeito da Arte na escola e do papel de ambas na sociedade.

Estaremos conctantemente trazendo idéias, sugestões e questões a respeito do trinômio Arte-Ensino-Sociedade, esperando com isso estarmos contribuindo para um diálogo amplo e ações consistentes na área de ensino de Arte nas escolas.

Isabel Marques e Fábio Brazil, professores e artistas, dirigem o CALEIDOS ARTE E ENSINO em São Paulo, capital, ministrando cursos e prestando assessoria a secretarias de educação, escolas públicas e privadas nas áreas de dança e poesia.

12.4.07

O reconhecimento tardio de Cartola

Na última sexta-feira (6) estreou o documentário “Cartola”, que retrata a vida e a poesia do sambista carioca do morro da Mangueira, autor de belas canções como “O Mundo é um Moinho” e “As Rosas não Falam”.

O reconhecimento tardio parece ser o destino do sambista carioca Cartola, autor de canções como As Rosas não Falam e O Mundo é um Moinho. Seu primeiro disco foi gravado em 1974, quando Cartola completou 66 anos. Agora, quase 30 anos depois de sua morte, surge o primeiro documentário com a intenção de contar as origens e narrar a poesia do maior sambista do morro da Mangueira.

Dirigido pelos pernambucanos Lírio Ferreira e Hilton Lacerda (leia entrevista), Cartola estreou na sexta-feira (6) nos cinemas brasileiros. O filme tem um ritmo dinâmico, repleto de fragmentos de gravações antigas do sambista.

O cineasta Ferreira avalia este documentário como mais “ficcional”, em termos de colagem e superposição de imagens, do que Baile Perfumado (seu primeiro longa-metragem). “Isso faz do filme algo sutil, o que não quer dizer que ele não seja verdadeiro”, ressalta.

A abertura, com o enterro de Cartola, faz uma menção à obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, do escritor Machado de Assis. Machado faleceu no mesmo ano em que o sambista nasceu, em 1908. “É quase uma passagem de bastão entre os dois artistas”, divaga Lacerda.

Apesar de haver concluído apenas o primário, Cartola - cujo nome verdadeiro era Angenor de Oliveira - compôs mais de quinhentas canções e criou a escola de samba Estação Primeira de Mangueira, em 1928.

O filme tem cenas de diversos intérpretes das canções de Cartola, como Beth Carvalho e Elza Soares. Há entrevistas com artistas e intelectuais, como Cacá Diegues, Zé Kéti e Elton Medeiros. Carlos Cachaça, o melhor amigo de Cartola, tem uma participação significativa no documentário. Cachaça faleceu em agosto de 1999, onze anos antes que o filme, cujo nome inicial deveria ser Peito Vazio, ficasse pronto.

“A voz de Cartola é uma voz que vem da periferia”, explica Lacerda, referindo-se ao Rio de Janeiro da primeira metade do século XX. Naquele tempo, o samba estava marginalizado e a participação dos negros no meio artístico era restrita. Para o cineasta pernambucano, a atitude de Cartola, Moreira da Silva e outros sambistas tem grande valor, porque eles “desceram do morro e fizeram uma arte transformadora”, que acabou sendo aceita. Hoje, ela é consumida e cultuada pela classe média.

Há uma linha de documentários recentes que parecem retratar a música brasileira. É como se o cinema nacional olhasse para o passado recente do Brasil, em busca de uma identidade cultural, e alimentasse um culto a intelectuais e artistas pouco conhecidos dos jovens que nasceram depois da década de 1980.

É o caso do filme Vinícius, dirigido por Miguel Faria Júnior em 2005; de Meu Tempo é Hoje, que conta a história de Paulinho da Viola e foi gravado em 2003; também do documentário Outros (doces) Bárbaros, gravado em 2004; e do docudrama Elis, exibido pela TV Globo em 2006. Neste sentido, Cartola não foge à regra.

A cena mais tocante de todo o documentário talvez seja quando o sambista interpreta a música Nós Dois, feita em homenagem à sua esposa, dona Zica, na semana em que eles se casaram. Sob o olhar apaixonado de sua mulher, Cartola entoa os primeiros versos: “Está chegando o momento de irmos pro altar, nós dois...”.

Lírio Ferreira ressalta que há muito material gravado que acabou não sendo incorporado à edição. “Há principalmente entrevistas”, diz ele, referindo-se à gravação de Elton Medeiros, que durou mais de quatro horas, e às cenas com outros entrevistados. “Este excesso de material deve estar em um futuro lançamento em DVD”

Fotos: cena do filme
Rafael Sampaio – Carta Maior