28.10.08

ABAIXO A DITADURA

Meus compadres e comadres: Minczuk é velho conhecido dos músicos de orquestra desse Brasil. O que ocorreu na Orquestra Sinfônica Brasileira não nos causou estranheza alguma.

Meu desejo é que fatos como este estimulem os demais músicos de orquestra que vivem sob o julgo de dirigentes e maestros déspotas, a cameçarem construir ambientes de trabalho onde impere a cordialidade, o respeito e a democracia substituindo o medo, a arrogância e a vaidade.

Muitos amigos, colegas e ex-colegas deveriam se espelhar nos músicos da OSB. Deveriam lutar contra a opressão, contra a ditadura, que vem se instaurando nas orquestras brasileiras.

Mas vamos ao ocorrido no Rio de Janeiro:

"O ensaio da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB) foi paralisado na noite desta segunda-feira (20) por um protesto dos músicos. Eles promoveram uma votação e pediram o distanciamento do regente, Roberto Minczuk. Dos 62 musicistas, 60 quiseram o afastamento do maestro.

A manifestação foi um repúdio ao comportamento de Minczuck. Fontes ouvidas pelo SRZD dizem que ele é um déspota. Os conflitos se acirraram no começo deste ano quando o spalla da orquestra, o músico mais importante depois do maestro, teve que se afastar por motivos de saúde. Na volta, o regente teria dito: "velho e doente, você vai ser demitido".

A secretária de Minczuk informou que ele não iria à sede da OSB nesta terça (21), e que qualquer outra pergunta deveria ser encaminhada à assessoria de imprensa. "A orquestra não foi notificada de nada, mas vou procurar", afirmou Leandro Lannes, responsável pela comunicação da OSB. Minutos depois, Lannes havia saído e não foi encontrado pelo resto do dia.

A OSB é uma orquestra particular que funciona com um sistema de acordo coletivo. O contrato terminou em primeiro de julho e não foi renovado por decisão de Roberto Minczuk, de acordo com as fontes. O fato estaria gerando descontentamento nos integrantes da orquestra. Quando Minczuk assumiu, a OSB começou uma fase de êxito comercial e os músicos tinham esperança que isso representasse, entre outras coisas, aumento nos vencimentos. O maestro teria paralisado a negociação e criado problemas também na administração da orquestra. Sem a renovação do acordo coletivo, os músicos estão com questões - como remuneração por gravações - indefinidas.

O violinista Daniel Passuni não quis comentar o assunto, alegando que é apenas mais um músico da orquestra. "Quem pode falar, apesar de eu não saber se tem autorização, é o chefe da comissão de músicos, Paulo Guimarães", desconversou. Guimarães, todavia, não foi encontrado.

No business da música clássica, as coisas acontecem mais ou menos assim, de acordo com nossas fontes. Agências de concertos colocam seus clientes em orquestras sinfônicas de vários lugares do mundo. Assim, os regentes são avaliados como administram, como fica a qualidade artística, para depois serem levados para outros postos mais importantes. O Brasil é considerado um destes locais em que os regentes são testados.

Antes de Roberto Minczuk, a OSB foi regida pelo argentino Yeruham Scharovsky (hoje radicado em Israel). Os músicos também tiveram atritos com o maestro e conseguiram o afastamento.

Em abril desse ano, a revista Bravo! publicou uma matéria investigando os motivos da explosiva briga entre Minczuk e o maestro John Neschling, regente da Orquestra Sinfônica de São Paulo (Osesp).

Ao comunicar ao chefe que havia assumido a produção artística do Festival Internacional de Inverno de Campos de Jordão (SP), os dois discutiram violentamente. Neschling argumentou que se Minczuk acumulasse mais essa função, além das orquestras regidas no exterior, prejudicaria a Osesp. Minzuck replicou que o motivo da discussão era a inveja do maestro. Desde então, nunca mais trocaram uma palavra.

Segundo o cronograma do site, o próximo concerto da OSB será no sábado (25), com a presença do violonista Yamandú Costa. A produtora de Yamandú, ironicamente, afirmou que a apresentação está confirmada, "a não ser que tenha acontecido algo que eu não saiba".