11.9.07

'Ser ou não ser': identidade de Shakespeare é posta em xeque

"Era ou não era o Bardo de Avon?" - eis a questão. Pelo menos é o que propõem alguns dos mais renomados atores "shakesperianos", no Reino Unido, sobre a identidade real de William Shakespeare. Conforme informa o jornal The Observer, a dúvida foi lançada por Derek Jacobi e Mark Rylance. Aos dois, sobra conhecimento de causa.

Jacobi, em sua longa carreira, encarnou personagens do famoso dramaturgo, a exemplo de Hamlet. Já Rylance foi diretor artístico do Globe Theatre - a conhecida réplica do teatro original de Shakespeare em Londres. Neste final de semana, eles divulgaram a chamada Declaration of Reasonable Doubt (Declaração de Dúvida Razoável). O documento questiona a identidade do "Bardo" (1564-1616), como também é conhecido o autor dos clássicos Otelo e Romeu e Julieta.

A polêmica veio à tona em local propício - no Minerva Theatre de Chichester (sul da Inglaterra). É lá que está em cartaz a peça teatral I Am Shakespeare (Eu Sou Shakespeare), que também investiga a veracidade da identidade do famoso dramaturgo. Ao fim da sessão de sábado, Jacobi e Rylance levaram ao público a declaração.

No texto divulgado, os atores indagam: como foi possível um plebeu do século 16 como Shakespeare, criado em uma família analfabeta de Stratford-upon-Avon, ter escrito as geniais obras que levam seu nome? Além disso, um homem que mal sabia ler e escrever não poderia possuir os rigorosos conhecimentos legais, históricos e matemáticos que salpicam as tragédias, comédias e sonetos atribuídos à pena do bardo.

O documento

Apesar de seu teor controverso, o comunicado promovido pela Shakespeare Authorship Coalition já recebeu a assinatura de quase 300 pessoas. Os signatários - dentre os quais figuram mais de trinta acadêmicos - dizem que não há provas de que o aldeão de Stratford-upon-Avon recebia algum tipo de pagamento para escrever alguns dos livros mais famosos da literatura universal.

Outro ponto sob suspeita é que os livros do autor explicitam grande familiaridade com a vida das classes altas, além de incluírem "detalhes obscuros" sobre países como a Itália. "Os eruditos acharam poucas ligações - a maioria delas duvidosas - entre a vida do suposto autor e as obras", diz a declaração.

Além disso, a Coalizão, fundada em 23 de abril deste ano (coincidindo com os 391 anos da morte do escritor), ressalta que o testamento de Shakespeare não menciona livros, obras teatrais ou poemas, além de não conter frases "shakesperianas".

Alguns nomes

Desde o século 18, não faltam teorias que defendem a idéia que William Shakespeare não foi mais que um pseudônimo. Com o tempo, surgiram suspeitas de que, por trás da figura do bardo, pudessem se esconder o dramaturgo Christopher Marlowe (1564-1593), o filósofo e homem de letras Francis Bacon (1561-1626) e Edward de Vere (1550-1604), conde de Oxford.

"Apóio a teoria do grupo", disse Jacobi, que arrisca um palpite sobre "o verdadeiro" Shakespeare: Edward de Vere, freqüentador da corte no reinado de Elizabeth I (1533-1603). O ator expõe as supostas similaridades entre a biografia do conde e numerosos fatos relatados nos livros do bardo.

"Acho que quem mais lança luz (sobre o enigma) é possivelmente De Vere, pois penso que um autor escreve sobre suas próprias experiências, sua própria vida e sua própria personalidade", comentou o ator.

Legitimidade

Jacobi e Rylance entregaram uma cópia da declaração ao professor William Leahy, responsável pelo departamento de Inglês na Universidade Brunel de Londres. Leahy é ainda diretor do primeiro programa de estudos dedicado à obra de Shakespeare, que começa este mês.

Segundo ele, o debate proposto é "legítimo", já que o problema oferece um "mistério em sua origem". "A discussão intelectual pode nos aproximar dessa origem. Isso não quer dizer, no entanto, que vamos achar uma resposta para tudo. Naturalmente, essa é a questão."

Pescado do portal www.vermelho.org.br