16.6.07

A Saga das Mãos

Meus compadres e comadres

Ontem foi uma noite especial para muitos e especialmente para mim e meu companheiro de militância cultural Antônio De Vito. É que o SESI trouxe à Ribeirão Preto a Bachiana Chamber Orchestra, regida pelo grande músico João Carlos Martins que se apresentou no Theatro Pedro II.

Na oportunidade foi exibido um filme mostrando aos presentes a maquete do Teatro Popular do SESI que será construído brevemente em Ribeirão Preto.

Foi uma noite muito agradável, pois pude rever velhos amigos entre eles Ênio Antunes Santos, integrante da Bachiana Chamber Orchestra e velho companheiro de jornada desde os tempos da Bahia e dos Festivais de Verão de Uberaba na década de 80.

João Carlos Martins é uma figura carismática, extremamente agradável e simpática. Um contador de causos. Levados ao seu camarim por Ênio Antunes, o famoso Brejeiro, eu e Antônio de Vito fomos recebidos pelo maestro como se fôssemos velhos conhecidos dele. Estávamos diante do maior interprete do maior compositor da história da música.

“Pouca gente, no Brasil, tem tanta afinidade com Bach quanto João Carlos Martins. Em seus tempos de pianista, ele gravou toda a obra para teclado do compositor alemão. Na sua nova carreira de regente, ele montou uma orquestra, sintomaticamente, chamada de Bachiana Chamber Orchestra. E seus dois primeiros lançamentos fonográficos como maestro contemplam, não por acaso, obras de Bach: as Suítes Orquestrais e os Concertos de Brandemburgo.

Uma tarefa relativamente simples para um intérprete que começou a tocar Bach, ao piano, aos oito anos de idade, e sete meses depois já vencia o concurso da Sociedade Bach de São Paulo, tocando as Invenções a Duas Vozes do mestre do barroco alemão.

Teve vários "momentos bachianos" memoráveis, mas se lembra com especial nostalgia da apresentação de inauguração do Glenn Gould Memorial, em Toronto, em março de 1983, pouco tempo depois do falecimento do pianista canadense.

"Entrei no palco, com uma recepção fria", recorda. Depois, o público foi sendo ganho, gradativamente, e, no final, com Artur Moreira Lima e Emil Gilels na platéia, João Carlos Martins deu um número recorde de bis: nada menos que 14. "O pai do Glenn Gould veio me dizer que o filho dele me admirava", lembra, emocionado”.

Mas o que emocionou a todos ontem no Theatro Pedro II foi rever João Carlos Martins sentado ao piano e tocando com três dedos (dois da mão esquerda e o polegar da mão direita).

Para quem não sabe, o mestre foi vitimado por alguns traumatismos físicos que lhe causaram atrofia dos movimentos dos dedos impondo-lhe uma luta constante e dolorosa de superação. Depois de reger a orquestra tocou ao piano divinamente músicas de Bach, Tom Jobim e o Hino Nacional acompanhado por seus músicos.

Sua saga é mostrada em documentário feito para o cinema por Irene Langemann numa produção franco-alemã.

E seu livro “A Saga das Mãos” pode ser adquirido em seu site www.joãocarlosmartins.com.br

Ricardo Feltrin, Editor-chefe da Folha Online escreveu o artigo que publico a seguir.