3.6.07

Paulo Miranda expõe em Uberaba

Meus compadres e comadres.

O artista Paulo Miranda expõe em Uberaba a partir do próximo dia 05, terça-feira, conforme cartaz ao lado. A seguir, deixo na responsabilidade do grande artista Hélio Siqueira um breve comentário sobre Paulo Miranda.

DA PALPABILIDADE DO GESTO A VISIBILIDADE DA FORMA

“Mais ainda do que criar imagens a função do artista é revitalizar a própria imaginação e o imaginário coletivo”. Roberto Matta.

Numa época de perspectivas cruzadas, concordo que o artista torna-se um guerrilheiro caminhando sobre situações nebulosas. Lança-se sempre em pesquisas alternativas, nos campos minados da criação, nos vôos em queda livre para desafiar o branco, nos exercícios em corda bamba para ocupar os espaços e sem medo de errar, vai encontrando outras saídas alargando sua capacidade perceptiva, e consequentemente dando sentidos inusitados para suas criações.

Paulo Miranda é um desses artistas que vive perigosamente arquitetando possibilidades, refazendo escombros, costurando pedaços, reconstruindo superfícies, num jogo racional e emocional de desconstruir o construído para coloca-lo em forma novamente repetindo, quero dizer, recriando como Sísifo, condenado pelos Deuses, a carregar eternamente a pedra/espiral da criação.

O papel no início de sua carreira, há vinte anos atras, foi a mola propulsora para suas investigações. Paulo encontrou nesse material possibilidades infinitas, fosse colando papel sobre papel- branco sobre branco, preto sobre branco, preto sobre preto, e no esfregar, arranhar, construir e destruir de superfícies transformou os espaços em partes indivisíveis, onde o suporte vira corpo da obra e não contenta mais em só ser suporte.

A recompensa para esse trabalho de guerrilheiro incansável veio através do prêmio do 8º Salão Paulista em 1990 e dos comentários veiculados na imprensa por Radha Abramo, destacando-o como um dos artistas mais promissores da sua geração.

Numa época em que a subversão foi institucionalizada, Paulo vai a cada nova fase subvertendo a matéria mais e mais e nos “Vestígios” de sua segunda fase coloca toda sua inquietação onde forma e fundo, conteúdo e continente são equivalentes e o estilhaçamento das matérias sempre em sobreposições deixa transparecer os vãos – invólocros que guardam memórias de um tempo perdido quase em decomposição.

Visualidade na arte é construção e Paulo Miranda lança-se de corpo inteiro sobre os acasos dessa dualidade destruir/construir, sempre atento e antenado não deixa que a técnica se torne uma mera obsessão, ela é reinventada a cada dia no recomeço de cada trabalho.

Nesta forma lúdica e lúcida de trabalhar com o papel, a cola, o pigmento a pedra fragmentada e depois a tela o artista aproximou as fronteiras do desenho com a pintura, chegando mesmo a transformá-lo num só corpo indissolúvel – resistente a aceitar qualquer conformismo ou qualquer sugestão fácil. Nas saturações voluntárias a matéria áspera ou delicada, dobra-se como couro nas mãos, não mais de um desenhista mas de um escultor onde a lona desgastada pelo uso, funde-se ao trabalho embrionário que se adivinhava no início de sua carreira.

Nos trabalhos atuais o desenho não é descartado, o artista descobre outras formas de desenhar, seja através da impressão de formas familiares, tais como fachadas de oratórios ,sacrários e grades, seja saturando os esfacelamentos dinâmicos dos gestos e sobreposições que inseridas na construção do trabalho abrem ou fecham portas, sacralizando as fechadas e dessacralizando as abertas permitindo ao espectador momentos de descoberta e contemplação.

Paulatinamente Paulo, com sua linguagem pessoal, vai se impondo e abrindo caminhos encontrando uma forma poética de falar da diversidade do mundo, dando visibilidade inconfundível à sua criação e tecendo comentários sutis sobre nossa precária existência.

Hélio Siqueira
Artista Plástico