25.5.07

O Papa não é pop, é punk

Ratzinger se retrata mas não se desculpa

Para encerrar uma polêmica suscitada por comentário seu no último dia da visita ao Brasil, o papa Bento 16 mencionou ontem os sofrimentos e as injustiças provocados pela colonização e evangelização da América Latina, quando “direitos humanos fundamentais dos indígenas foram muitas vezes pisoteados”. “A memória de um passado glorioso não pode ignorar as sombras que acompanharam a obra de evangelização”, disse o papa. A notícia está em todos os grandes jornais do mundo, hoje.

Há dez dias, no último compromisso de sua visita ao País, ao falar na abertura da 5ª Conferência-Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, ele disse que “o anúncio de Jesus e do seu Evangelho não supôs, em nenhum momento, uma alienação das culturas pré-colombianas, nem foi uma imposição de uma cultura alheia”.

Diante de 162 cardeais e bispos de 22 países, Bento 16 defendeu a conversão dos indígenas à fé cristã como algo que purificou suas culturas e disse que a ação da Igreja Católica gerou uma síntese entre as culturas dos “povos originários” e a fé cristã que os missionários “lhes ofereciam”.

Entre os críticos que se levantaram contra as declarações, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, acusou Bento 16 de “ignorar o holocausto” deflagrado pela chegada de Cristóvão Colombo à América, em 1492, e sugeriu ao pontífice que pedisse desculpas. Líderes indígenas do Brasil disseram que o comentário do papa foi “arrogante e desrespeitoso”.

Ontem, diante de 50 mil pessoas reunidas na Praça de São Pedro, Bento 16 disse que a Igreja “não negligencia as várias injustiças e sofrimentos infligidos pelos colonizadores às populações indígenas”. Complementou que os “crimes injustificáveis” da colonização foram denunciados já na época por missionários como Frei Bartolomeu de las Casas. Reafirmou, porém, que o Evangelho expressou e continua expressando a identidade dos povos da região - e não pediu desculpas.

Pescado do "Diário Gauche"