29.5.07

O Boteco do Zé (causo)

Meus compadres e comadres.
Hoje estou meio saudosista e passei o dia "alembrando" da minha confraria toda lá de Lavras - MG. Lembrei-me de cada um, especialmente do meu "cumpadi" Zé Maria. Esse "cabôco" é um sujeito muito "bão". Tem uma “paciência de Jó”, como diz o outro, mas quando gastam a paciência dele, sai da frente. Seu maior defeito é torcer para o Cruzeiro. Mas não tem problema não! O que seria do futebol, se todo mundo fosse atleticano, não é mesmo?

Mas esse nosso cumpadi, protagonista desse causo, natural de Tiradentes, MG, aprendeu com o saudoso Romário Lima (que Deus o tenha!) a trabalhar com madeira. E não é que ficou bom de serviço, sô! Aliás, não é porque é amigo meu não, mas o Zé Maria, tudo que ele pega para fazer faz bem feito. Levanta uma casa brincando, cuida de roça, conhece de mecânica. Ainda acho também que ele até mexe com força...!

Bem, vamos ao causo. Esse nosso cumpadi Zé Maria, certa feita abriu um boteco lá em Lavras, MG. Ele mais a dona Marusa, seu “Pezim de Arface”, como ele mesmo diz, e estavam tocando a vida lá deles.

Todo dia, no final da tarde, Zé Maria ficava em um canto, do lado de dentro do balcão, e mais dois amigos seus, do lado de fora, contando prosa e tomando uma cervejinha. Aquilo era todo santo dia. Até que, certa feita, adentra seu estabelecimento comercial um cabra que ninguém conhecia e que foi logo dizendo:

- Seu Zé, o senhor bota quatro pinga aí? Uma para mim, outra para o senhor, outra para ele e outra para o outro ali.

Zé Maria atendeu ao homem que lhe pareceu bastante educado. Colocou as quatro caninhas naqueles quatro copinhos de cachaça.
O homem brindou com todos, bebeu e se mandou. Foi-se embora e Zé Maria e seus dois amigos ficaram sem entender nada.

No outro dia, no mesmo horário, volta o homem. Lá estava o Zé Maria, dono do boteco, com seus dois amigos. O homem entra. Pára diante dos três, cumprimenta-os e diz:

- Seu Zé, o senhor bota quatro pinga aí! Uma para mim, outra para o senhor, outra para ele e outra para o outro ali.

Zé Maria, já meio veiaco, atende ao homem. Coloca as quatro doses nos quatro copos. O homem brinda, bebe e vai-se embora. Zé Maria, mais uma vez surpreso, pergunta aos amigos:

- Ocêis cunhece esse home?

- Não, não alembro de ter visto ele aqui em Lavras não! – disse um.

- Acho que eu sei quem é. É um desses que ficaram ao deus-dará, vagando, quando fizeram a Represa do Funil. Agora ês num tem mais onde pescar e ficam por aí, tomando cachaça sem saber nem onde ês tão – disse outro

- Mas eu não tenho curpa, uai. – Brada Zé Maria, indignado. E continua:

- Aliás, eu sempre fui desconfiado dessa tal de represa. Só que agora eu vivo de vender os trem, uai. Ele vem querer levar de graça a única coisa que tenho para vender... Olha, se esse cara amanhã pedir cachaça de novo, tomar e vazar, eu pego ele e dou umas porradas nesse sujeito! Cachaceiro forgado, sô.!

No outro dia, fim de tarde, lá estava o Zé Maria com seus dois amigos. Chega o mesmo cabra e dirige a palavra ao dono do estabelecimento.

- Seu Zé, o senhor bota quatro pinga aí! Uma para mim, outra para o senhor, outra para ele e outra para o outro alí.

Zé Maria colocou as pingas e desta vez ficou de olho. Quando o folgado do cachaceiro quis ir embora o Zé Maria pegou-o pelo colarinho e encheu-o de porrada.

- Agora ocê vai aprender seu filho d’ua égua a não tomar cachaça às custas dos outros. Safado, sem vergonha!

Depois de dar um corretivo no sujeito agarrou-o pelo cu da calça e pelo cangote da camisa e jogou-o lá, no meio da rua.

No outro dia, a mesma cena. Só que desta vez o homenzinho vinha todo estropiado por causa da tunda que tomou do Zé Maria. Cabeça enfaixada, cheio de esparadrapos pelo corpo, mancando de uma perna e o braço direito numa tipóia. Entrou no boteco do Zé e foi dizendo:

- Seu Zé: o senhor bota três pinga aí! Uma para mim, outra para ele e outra para o outro alí.

Zé Maria com aquela cara safada e sorrindo sem aparecer os dentes, pergunta ao cachaceirim estropiado:

- Uai, e prá mim, não?

Ao que ele responde:

- Não, seo Zé. O senhor quando bebe fica muito violento.

OBS: A imagem que ilustra o causo é um óleo sobre tela de João Werner