2.4.07

Jesus aparece nu em NY. E os católicos se unem contra a arte

A exposição My Sweet Lord - que mostraria um Jesus Cristo esculpido em chocolate, com o corpo nu e em tamanho real - foi cancelada nesta sexta-feira (30). O que provocou a decisão foi uma série de reclamações de católicos, enfurecidos com a obra supostamente "doentia".

O Cristo de confeitaria: censura My Sweet Lord (que significa algo como "meu amado senhor" e também uma brincadeira com a palavra "doce") seria exibida duas horas por dia durante a Semana Santa. Ficaria exposta numa vitrine ao nível da rua da galeria Roger Smith Lab, em Manhattan, Nova York, mas acabou vetada pelo hotel que abriga a galeria.

Em protesto, Matt Semler, diretor da galeria, pediu demissão após o cancelamento da exposição. A escultura de 1,82m foi vítima da "pressão de pessoas que não viram a exposição", acusou Semler. "Elas tiraram conclusões completamente opostas às nossas intenções."

Liberdade

Não faz muito, os mulçumanos estertoraram contra as charges anti-Maomé publicadas num jornal dinamarquês. A mídia ocidental, majoritariamente cristã e sobretudo católica, evocou o princípio da liberdade (no caso, de imprensa e de pensamento).

Com o Jesus nu, esculpido pelo ítalo-canadense Cosimo Cavallaro, a história foi outra. A notícia do Cristo de confeitaria enfureceu católicos como o cardeal Edward Egan, que descreveu a peça como "uma coisa doentia".

Bill Donohue, líder da liga católica dos Estados Unidos, disse que a obra era "um dos maiores ataques ao sentimento cristão em todos os tempos". O arcebispo de Nova York, mais radical, havia descrito a escultura como "escandalosa" e "nojenta".

Reação em cadeia

O hotel e a galeria receberam ligações telefônicas e e-mails enraivecidos desde quinta-feira. Semler, o diretor da galeria, chegou a ser ameaçado de morte. Acuado, o presidente do Roger Smith Hotel, James Knowles, lavou as mãos: "Nós provocamos o cancelamento da exibição e desejamos reafirmar a dignidade e a responsabilidade do hotel em todos os seus negócios".

A peça foi criada com mais de 90 quilos de chocolate ao leite e mostra Cristo com os braços abertos como se pregado a uma cruz invisível. Diferentemente das versões religiosas da imagem, o Cristo de Cavallaro não tem as partes íntimas cobertas.

Semler disse que o hotel não tivera conhecimento do que a galeria planejava exibir. Mas também falou que a obra não era irreverente. "A intenção dela é ser uma reflexão sobre a Semana Santa", disse Semler sobre a escultura, que mostra Jesus como se estivesse sobre a cruz. O domingo de Páscoa é comemorado como o dia da ressurreição de Jesus.

Comida na arte

Cavallaro é conhecido por seus trabalhos de arte com comida. Certa vez, o artista "pintou" as paredes de um quarto de hotel com muzzarela derretida. Ele também já cobriu uma residência inteira com 5 toneladas de queijo picante e uma cama com 140 quilos de presunto.

Diferentemente do autor das charges, Cavallaro não teve propósitos zombeteiros. Mas, se as charges ganharam o mundo, a exposição foi sumariamente cancelada antes de ser lançada. Como artista e cristão, Cavallaro se sentiu desapontado com o fim de My Sweet Lord.

Nova York rigorosa

Não é a primeira vez que ocorrem choques entre arte e religião em Nova York. Em 1999, o então prefeito Rudolph Giuliani ameaçou suspender as verbas do Museu de Arte do Brooklyn em função de uma pintura que mostrava a Virgem Maria como mulher negra salpicada de estrume de elefante e adornada com recortes de revistas pornográficas.

O prefeito atual, Michael Bloomberg, está adotando uma abordagem diferente. "Se você quer dar publicidade a um sujeito, fale sobre isso, faça uma grande confusão", disse o prefeito à rádio WABC. "Se você quiser prejudicá-lo realmente, não preste atenção."

Pescado do site www.vermelho.org.br