9.4.07

SERRA QUER A CABEÇA DE NESCHILING

Meus compadres e minhas comadres: O Governador José Serra quer a cabeça de John Neschiling, atual maestro da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP).

Enquanto isso Paulo Henrique Amorim compara o governador a Stalin e o maestro a Shostakovitch. Eu, pensando aqui com meus botões, só fico acompanhando essa peleja. Fico lembrando meus companheiros de profissão, que ocupavam cargos representativos dentro do quadro daquela orquestra e assim como eu foram perseguidos e demitidos. Só que eu aqui na Orquestra de Ribeirão Preto e eles na OSESP durante a gestão Neschiling/Minkzuk. Penso que devem estar batendo palmas e dando pulinhos de alegria para o São Longuinho.

Por outro lado acho bastante positiva essa iniciativa do governador porque recicla e esse tipo de reciclagem areja. Os maestros passam e a orquestra fica. A orquestra são seus músicos. Sem eles não há orquestra e mesmo somente com eles a orquestra continua existindo.

Quanto ao artigo do Paulo Henrique Amorim, que publico abaixo, acho meio exagerado fazer essas duas comparações. Tem nada haver. Acho que está mais para Bush e Saddan Husein.

Aproveito e convido meus compadres e minhas comadres a ouvirem obras desse grande compositor que foi Shostakovitch.

E ainda aproveito para indicar o Maestro Zé da Zica para o lugar de John Neschiling.

Mas vamos ao artigo do PHA

SERRA(STALIN) X NESCHILING (SHOSTAKOVITCH)
Paulo Henrique Amorim

“O Governador José Serra não é um homem inculto”.
É assim que começa o artigo de João Batista Natali, na página dois da Folha, de hoje, segunda feira, dia 09 de abril. Não é inculto, mas parece. O artigo de Natali demonstra isso.
Serra quer degolar John Neschling e tirá-lo da Orquestra Sinfônica de São Paulo.
Quero declarar, de saída, que tenho um interesse pessoal nisso: paguei por duas assinaturas desta temporada – a série Jequitibá e a Ipê. Faço questão de repetir que paguei, para não parecer que entro na categoria da “boca livre”. Quero dizer também, de saída, que considero a Osesp, com Neschling, a melhor orquestra brasileira que conheci. (Não posso falar sobre a Osesp de Eleazar de Carvalho, porque jamais a vi).
Natali não quis explicar por que Serra quer tirar Neschling da Osesp. Eu explico. Existe o motivo “cultural”, a desculpa: A Osesp é um projeto “elitista”, fora da “realidade do Brasil”, uma orquestra “para os iniciados”. A Osesp deveria ser mais “acessível”, mais “popular” no bom sentido...
Isso é terrorismo cultural – é o que Stalin fez contra Shostakovitch. Disse que Shostakovitch não compunha para as massas. Era preciso chegar ao povo com mensagens construtivas, temas do folclore, realistas, socialistas...
O que significa isso, convertido para a gestão Serra/Stalin? Que a Osesp deveria tocar os temas da banda “É o Tchan”, o movimento cultural, que, segundo a Folha de S. Paulo, caracterizou a produção artística do Governo FHC? Ou, um pouco mais acima, na escala “popular x erudito demais”, tocar os temas das novelas da Globo?
Só que isso é conversa de epígono do governador. O verdadeiro motivo para Serra querer degolar Neschling é que, dois anos atrás, quando Serra era prefeito (foi prefeito?), quis incluir a Osesp no que chamou de “Virada Cultural”. E decidiu que a Osesp tocaria no encerramento, no Parque Independência. A Osesp fez uma série de exigências, já que não se trata de “É o Tchan” – queria comida para os músicos, vestiário para que trocassem de roupa. A prefeitura demorou a resolver os problemas, não resolveu e a Osesp não tocou.
Stalin ficou uma fera. E agora vai degolar Shostakovitch.
Não importaria se Neschling fosse uma cruza de Toscanini com Furtwängler. Isso seria irrelevante.
Também não interessa que a Osesp esteja em plena atividade numa temporada na Europa, debaixo de aplausos.
Acabei de conversar com uma pessoa que assistiu à récita de Viena (Viena, não é Botucatu do Oeste Mineiro). A Osesp tocou Guarnieri, Ginastera (esse é argentino, cuidado Serra), Villa (Bachiana # 4), e o fantástico concerto # 4 para piano, de Rachmaninoff, com Nelson Freire. Nada que se compare a um gol do Edmundo, do Palmeiras, mas, ainda assim, algo de que nos deveríamos orgulhar.
Também não importa que Neschling tenha um contrato até 2010, com cláusula rescisória.
Está decidido que assistiremos a um “aparelhamento” da Osesp – desses “aparelhamentos” bons, que só o PT e os tucanos sabem fazer.
Stalin locuta causa finita.