22.4.07

Jóias do Jequitinhonha

Coletânea resgata a música do Vale em seis discos, que teve lançamento sexta-feira, em Belo Horizonte. Projeto integra o programa de desenvolvimento sociocultural da região

Uma idéia imaginada, há alguns anos, pelo cantor e compositor Rubinho do Vale, a de fazer o mapeamento da música do Vale do Jequitinhonha, uma das mais ricas e criativas regiões do país, começa a ser coroada agora, com o lançamento da coletânea A Música do Jequitinhonha, com seis CDs: Cantigas do Vale, de Geovane Figueiredo; Frei Chico–Lira Marques, com Dona Generosa e Corais de Araçuaí; Queremos navegar, com o Coral Nossa Senhora do Rosário; Um trovador do Vale, de Pinaco, além de dois discos de Rubinho, Forró e Vida, Verso e Viola. Esse é um dos oito projetos que integraram o primeiro ano do Viva o Vale! – Programa de Desenvolvimento Sóciocultural do Vale do Jequitinhonha, patrocinado pela Avon do Brasil, com recursos da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais. A festa de apresentação dos discos, com a presença da maioria dos participantes, foi realizada sexta-feira no Music Hall, onde o forró, as cantigas de folia e outras manifestações culturais rolaram até altas horas.

Mineiro de Rubim, de onde saiu na década de 1970, Rubinho do Vale conta que está feliz com o resultado obtido. “Há tempos eu queria registrar, como ocorreu agora, o trabalho de alguns artistas populares do Vale, como Pinaco, de Rubim; Geovane Figueiredo, de Jordânia; Newton Oliveira, e outros, que são ótimos, mas ainda não haviam tido oportunidade de ver sua arte documentada em um disco”, diz o cantor. Com o pé na estrada, e muita disposição para levar adiante seu projeto, Rubinho foi ao encontro desses artistas do povo, alguns deles já mais velhos, como o excelente poeta popular Geovane Figueiredo, cuja obra estava inexplicavelmente inédita até agora. O CD com composições suas, Cantigas do Vale, do qual participam Wilson Dias, Carlos Farias, Tau Brasil, Nen Viana, Lucinho Cruz, Helena Santos, Newton Oliveira e outros, é um dos pontos altos da coleção. Ela traz, ainda, a arte de Pinaco, que, aos 88 anos, vive em Rubim, canta e conta no disco, além de “causos” engraçados, outros com algum apelo social.

A artesã Lira Marques e o lendário Frei Chico,, “um holandês mais brasileiro do que muitos brasileiros”, segundo Rubinho do Vale, também mostram que são bons de música no CD Frei Chico – Lira Marques, com Dona Generosa e Corais de Araçuaí. Rezas, folias de reis, benditos, canções para pedir que venha chuva, além de batuques, misturam-se nas cantigas, nas quais se percebe a essência musical do Vale do Jequitinhonha, onde a religiosidade sempre foi traço forte. O disco conta, ainda, com a participação especial dos corais Trovadores do Vale, Nossa Senhora do Rosário, do Arraial dos Crioulos de Araçuaí e do Arara Grandes.

Pela primeira vez Rubinho grava um disco só de forró. “À primeira vista, a música do Vale do Jequitinhonha parece ser melancólica e triste. Mas quis mostrar também nosso lado alegre e dançante nesse trabalho”, conta o cantor. O CD vem com participações de Margareth, Noeme, Gláucia, Déa Trancoso e do Trio Bodocó, da Paraíba, além de Bruno, de apenas 13 anos, e ainda de Wilson Dias e Carlos Farias. No outro disco, Vida, verso e viola, esse menestrel do Jequitinhonha – que diz ter sido influenciado no início da carreira pelo grupo Raízes, criado no início dos anos de 1970 pelos montes-clarenses Charles e Tino Gomes – canta e fala da sua vida, desde a infância, em Rubim, até a chegada a Belo Horizonte, onde sedimentou sua carreira musical. As capas dos discos, que lembram os trabalhos de alguns dos muralistas mexicanos, foram feitas pela artista plástica Marina Jardim.

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